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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.4.05

Neste Abril de águas mil, em que renasce meu sentir

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Inesperadamente, uma chuva miudinha, mas intensa, vai molhando a cidade velha, lavando muitas mágoas. E, anotando meu "carnet d'antropologue", em estilo de reportagem íntima, o meu olhar se vai perspectivando sobre o mundo e as gentes que me circulam.

É, sobretudo, o acaso procurado que me acontece, numa qualquer curva do caminho, o inesperado de há muito antecipado, a emoção que racionalmente fui construindo, neste permanente encontro do eu com as suas circunstâncias, entre o sonho que me leve além e a força normativa dos factos, onde só por dentro das coisas é que as coisas realmente são.

Porque a vida vivida, sem a aventura de quem passeia na cidade, correndo praças, ruelas e travessas, neste prazer do movimento que é vivermos como pensamos, permite que enfrentemos, olhos nos olhos, o calculismo frio dos que, por tanto planearem, se dispersam em pensamentos sem sítio, acabando por transformar-se em frustrações semoventes.



Prefiro o pragmatismo da aventura, o tal transcendente situado de quem dá corpo ao sonho, olhos, mãos, sons, sabores e cheiros, neste procurar o todo da compreensão, onde, em comunhão, podemos fazer cidade, tempo vivido, intenso e denso, entre passado e futuro, na dor-alegria do presente.

Aqui e agora, pode sorrir-nos o mais além, mesmo em dia de chuva como hoje, onde, olhando por mim dentro, além de mim, é nos outros que me confundo e me difundo. Na seiva peregrina de ser vizinho e de apetecer viver comum.