Mal vai o professor que não tenha um aluno que o ultrapasse...
Acordei cansado de tanta hiper-informação laranja, farto dos Borges que não querem ser a terceira-via e que preferem continuar a viajar entre Londres e Alter do Chão, dando sentenças sobre o sexo dos anjos. Farto de mestre Alberto, sempre contra os cubanos, os barões e a moirama, denunciando o marxismo, a maçonaria, o corporativismo e o capitalismo selvagem. E achando graça a Pedro que não se vai embora, que diz "até amanhã se Deus quiser", prometendo que continuará "a andar por aí" a fazer teologia do buraco e messianismo do túnel.
Nem sequer me entusiasmei com o nó público e notório, no civil e no religioso, dado por Carlos e Camila, depois de pedirem perdão e serem absolvidos, com muita música e algum apoio popular, antes de José Ribeiro e Castro anunciar que não rejeita ser líder do CDS, filosofando: "vamos esperar o autocarro que ele acaba por chegar... estou a reflectir". Entretanto, deve ter chegado um telefonema do Dubai, clamando pela imaginação ao poder e sugerindo a oficialização da poligamia partidocrática, no âmbito do espírito de Assis.
Foi então que me chegou, pela via hertziana, o formoso som de uma gravação recuperada do violoncelo de Guilhermina Suggia e passei para o eterno, descobrindo, pela música, a manhã que ia chegando, aqui dentro, além de mim. Deixei-me mobilizar pelo belo programa que ia ouvindo, numa reportagem sobre o Conservatório de Música do Porto, onde não se falava em túnel de Ceuta, casa da música, Rui Rio e ministra da cultura. Até ouvi, da senhora directora, cujo nome não fixei, uma das mais belas definições de professor, que ela terá recebido de um outro professor, segundo a qual "mal vai o professor que não tenha um aluno que o ultrapasse".
Como professor que professa e com o prazer de poder dizer que, em tal missão, realiza aquilo que sempre sonhou ser, assumo a suprema ambição de continuar a ser professor, assim sem mais, como palanques, comissões de serviço, requisições ou nomeações para altos cargos da dirigência escolar, da educacionologia, da avalialogia ou do cunhocentrismo. Apenas direi que, nessas simples e humildes palavras, senti o sinal clássico do vivermos o espírito de escola, de nos sentirmos corrente profunda, desse irmos além de nós que é ensinarmos aquilo que aprendemos, até sentirmos essa plenitude de podermos aprender com os antigos alunos, com os antigos discípulos, sem a lógica suicida dos eucaliptos que não têm a suprema ambição da humildade. Não pode ser mestre quem não sabe ser discípulo, até dos próprios discípulos.
Que bom seria que este espírito de serviço comunitário inundasse as escolas, os partidos, os jornais, os sítios todos onde devíamos servir pátria, sem nos servirmos! Ser mais velho é acreditar que vale a pena continuar a esperança de semear...
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