a Sobre o tempo que passa: Habemus papam...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

19.4.05

Habemus papam...



Vitória do bávaro e antigo arcebispo de Munique, Joseph Ratzinger. Um grande teólogo e professor, considerado modesto e afável, que se assume como Bento XVI. Tem, pelo menos, o encanto de ser meu homónimo. A novidade de ter um clube de "fans" na Internet. E de tudo ter sido extremamente previsível. João Paulo II não deixou ponto sem nó. E tudo foi globalmente mediático. Não estou triste nem satisfeito. Observo. Nomeadamente os comentários teológico-televisivos de Nuno Rogeiro e Bagão Félix. Mas não faço considerações teológicas, nem à maneira de Mário Soares. E sem dizer que os conservadores venceram os progressistas. Apenas noto um velha evolução numa continuidade de dois mil anos. Participou como soldado do exército alemão nos últimos meses da Segunda Grande Guerra, como operador de anti-aérea, embora tenha sido obrigado a desertar, e, entre 1946 e 1951, estudou filosofia e teologia na universidade de Munique, mas, segundo o padre Vaz Pinto, que, com ele, privou, antes de 1974, preocupava-se "com a democracia em Portugal" e "com a autodeterminação das colónias portuguesas". Compreendemos o comentário de Francisco Louçã, um dos poucos seres que consegue aceder ao código genético da humanidade, hoje.

Importa recordar um certo estilo: Syllabus complectens praecipuos nostrae aetatis errores do papa Pio IX, de 1864. Continuarão a ser condenados o Panteísmo, o Naturalismo, o Racionalismo absoluto, o Racionalismo moderado, o Indiferentismo, o Socialismo, o Comunismo, as Sociedades secretas, as Sociedades bíblicas, as Sociedades clérico-liberais e o Liberalismo, entre outros 84 erros?

Como homem de boa vontade, confesso o meu defeito panteísta, descendente de Espinosa, e liberal, herdeiro de Lord Acton, que era britânico e católico, e de D. António Alves Martins, que era Mirabeau e tudo, dizendo que a religião devia ser como o sal, para não fazer mal ao coração. Mas saúdo a clarificação. Bem como a necessidade de diálogo, porque são mais os pontos comuns do que as divergências. Longe, mas perto. Sem qualquer jacobinismo. Mas preferiria Frei Bartolomeu dos Mártires, se tivesse direito a voto.