a Sobre o tempo que passa: A secreta operação Portão Aberto e outros factos dispersos

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.4.05

A secreta operação Portão Aberto e outros factos dispersos



De ler o testemunho de José Mateus, no blogue, melhor do que no "Correio da Manhã":

À hora que o major A. se preparava para avançar no seu descapotável como batedor da coluna libertadora de Salgueiro Maia, um grupo de navios americanos tomava posição frente a Lisboa. Era a operação ‘Open Gate’ (Portão Aberto).

Dias antes, o embaixador americano retirava-se de Lisboa sem abandonar o território nacional. Era a visita de longos dias aos Açores.

Na Pide, além de esbirros, assassinos e outras bestas sádicas, havia dois dirigentes que pensavam e um operacional perigoso. A agenda, para o dia 25 de Abril, de Rosa Cavaco e Pereira de Carvalho foi, antecipadamente, marcada por gente da embaixada americana – almoços, jantares e reuniões foram óptimos meios de controlo pessoal.

Quanto a Barbieri Cardoso foi ‘requisitado’ pelo patrão da secreta francesa – o lendário Conde de Marenches – para uma reunião em Paris, na ‘Piscina’, às 09h00 de 25.04.74. Marenches sabia que Barbieri tinha em Paris uma ligação feminina e que, quando ali se deslocava para reuniões, ia sempre com um ou dois dias de avanço para ter umas horas com a senhora. Barbieri a 23 já não estava em Lisboa.

No seu quarto 60... do Avenida Palace, Dominique de Roux estava atento aos movimentos dos ‘oficiais’. Falava com o seu amigo português, o ‘engenheiro’, e contactava ‘Chadeck’, o ex-trotsquista originário da Europa de Leste e naturalizado americano. Nessa madrugada, veste-se de negro (como sempre na Europa, em África só de branco) e desce às ruas da Baixa e ao Terreiro do Paço ao encontro dos tanques sob o comando supremo do seu velho amigo (desde Bissau, anos antes) Otelo. À Cova da Moura, será o primeiro ‘jornalista’ a chegar.

À hora do pequeno-almoço, quando saíam para a rua, os dirigentes clandestinos do PC deparam-se com o golpe vitorioso. Surpresa! Se os serviços do PC, desde Novembro, haviam cheirado o golpe, se militantes do PC no exílio haviam festejado o Natal de 73 como o “último antes do regresso a casa”, se em Janeiro haviam desencadeado uma campanha internacional contra a “extrema-direita militar” e as “pinochadas”, a verdade é que em matéria de datas estavam a zero.

Por S. Bento, o assessor militar do presidente do Conselho de Ministros, almirante Coutinho Lanhoso, esboçava um largo sorriso e ficava sem saber o que fazer à carta de demissão que, havia anos, trazia no bolso interior do casaco. Acabou por atirá-la, rasgada, para o lixo.

No Rádio Clube Português, uma voz dizia “aqui, posto de comando do Movimento das Forças Armadas ”...

...Cerca de ano e meio depois de Abril de 74, a mesma coluna de Salgueiro Maia avança para Lisboa, enquanto os mesmos navios americanos, com o mesmo enquadramento NATO, executam manobras ao largo de Lisboa. É a madrugada de 24/25 de Novembro e é a operação ‘Closed Gate’ (Portão Fechado)...