a Sobre o tempo que passa: O paradigma do gajo porreiro. Entrevista concedida à revista "Mais Valia"

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.5.05

O paradigma do gajo porreiro. Entrevista concedida à revista "Mais Valia"



No passado dia 6 de Maio, a revista "Mais Valia" publicou uma entrevista que concedi a Suzana Pereira. Aqui deixo o link.

Faço também alguns destaques:

As elites são estreitas porque o sistema educativo até há 35 anos era selectivo e fechado, enquanto a democratização do ensino tem apenas 30 anos de investimento. Portanto, as classes intelectualmente formadas e maduras ainda são do clube restrito da formação de elites. Só a partir de agora o povo vai chegar às elites de forma directa e não de uma forma enviesada como até há pouco tempo se fazia em Portugal.


Em Portugal, há um problema de má relação entre a universidade e a política. Não há osmose, não há um treino de formação de elites. Nós devíamos copiar a formação da Igreja ou a formação militar. Não é preciso ir lá para fora. Basta vermos as nossas experiências e alguns modelos de corporação que temos cá.

O bom político não é necessariamente o catedrático.

Este pacovismo lusitano de não resistir em qualidade é dramático!

Enquanto um anglo- -americano cultiva no aluno o excêntrico - Churchill -, o nosso paradigma é o bem - comportadinho, o copiador. Isto é um país de inventores onde o domínio é dos chatos.

Os portugueses que aqui ficaram são os que enjoavam na viagem, os que não quiseram ser portugueses à solta.


Tínhamos de tomar medidas radicais. Uma delas era extinguir a capital. Podíamos subdividir os órgãos de soberania pelo país, mas não à Santana Lopes. Copiar a Holanda ou a Suíça. Temos um aparelho de Estado demasiado centralista, ainda herdeiro do absolutismo.

O CDS é uma espécie de Belenenses

O portismo foi um choque electrico que produziu grandes entusiasmos, mas deixou muitas queimaduras.

O sistema está velho! Estamos tão velhos que o Dr. Mario Soares ainda manda.

O Eng. Sócrates gerou altas expectativas que podem revelar-se, de um momento para o outro, grandes frustrações.

O paradigma do Eng. José Sócrates é o gajo porreiro, bem formado, com qualidades. Mas o problema não está na pessoa, está na equipa. Já esgotaram a caixa dos boys e tiveram de alargar o recrutamento a pessoas que não estão tão motivadas. Vão entrar na zona cinzenta do favor feudal porque o núcleo duro daquelas que tinham sonhos ja terminou.