a Sobre o tempo que passa: Paradigma do boi piranha

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

29.4.05

Paradigma do boi piranha



Leio na habitual crónica de Henrique Neto, no Diário de Leiria de hoje, este interessante naco de prosa: "José Sócrates maneja como ninguém as medidas de diversão, sendo essa qualidade uma das razões para o seu sucesso na política, de que resulta não ser fácil conhecer as suas verdadeiras intenções. Acontece que há dias alguém me explicou que essa sabedoria tem no Brasil um nome, chamam-lhe o “paradigma do boi piranha”, porque, quando os vaqueiros pretendem atravessar com a manada um rio infestado de piranhas, lançam ao local um boi velho, ou doente, para ser devorado e, ao mesmo tempo, a manada pode passar ao lado sem ser incomodada."



Divirto-me também a ler que Luís Marques Mendes, presidente da assembleia municipal de Oeiras, pela lista de Isaltino Morais, e antigo dono da Universidade Atlântica, pela mão de Isaltino Morais, considera que o ex-presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, que está a ser investigado por alegada fuga ao fisco, não tem condições políticas para concorrer de novo à Câmara de Oeiras. O autarca Marques Mendes aconselhou ontem o seu outrora amigo e empregador a "reconsiderar" a sua candidatura. Tão companheiros, co-partidários, co-intelectuais, co-universitários e co-vizinhos que eles eram, em nova fábula do boi piranha. Consta que o PS, procurando finalmente atravessar o rio da vitória eleitoral em Oeiras, vai candidatar o oeirense Jorge Coelho que assim deverá abandonar a projectada candidatura à assembleia municipal de Sintra. Vale-me que passei a ter a residência eleitoral em Lisboa. Sugiro que Marques Mendes, num golpe de mestre, vá à Aveiro buscar um candidato para Oeiras. Até pode ser aquele nomeado secretário de Estado do PSD que afinal era militante do PS e que também não conseguiu nomear, de forma institucional, como reitor da Universidade Atlântica. Seria o clímax do Bloco Central e até poderia também ser o candidato do PS. Assim, se atravessaria melhor o rio, a caminho do Bugio, por um canudo... de Fafe, posto numa varanda de Caxias.



Já depois do lançamento deste postal, verifiquei que pode ler-se o seguinte da primeira página do "Expresso": "O PS está a testar nomes quase desconhecidos para a Câmara de Oeiras. E Isaltino Morais disse a dirigentes do PSD que contava com a garantia de Jorge Coelho de que os socialistas não apresentariam um candidato forte se ele se candidatasse. Elsa Pais, Helena Torres Marques e Emanuel Martins são os nomes propostos pelo PS numa sondagem encomendada por Coelho que está a ser realizada - e que contempla todos os cenários: Isaltino concorrendo pelo PSD ou como independente, e Teresa Zambujo pelo PSD". Ao que consta não foram sondados pelo PS os últimos polícias sinaleiros que residem em Lisboa. Por outras palavras, repete-se, de forma categórica, a barganha rotativa que marcava as relações entre progressistas e regeneradores nos tempos crepusculares da monarquia liberal.