a Sobre o tempo que passa: Pela redução das subvenções estaduais aos partidos!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.5.05

Pela redução das subvenções estaduais aos partidos!



Leio que os rendimentos dos cidadãos passam a poder ser revelados na Internet. Aplaudo. Observo que 35 bandas vão dar música aos jovens por uma marca de cerveja. Que Sampaio condecora no Japão a marca de um automóvel que, há anos disse, que vinha para ficar e que, por acaso, é a do meu carrito. Que em toda a Europa está em curso um processo de denúncia do "foot-businesse" e do consequente "mercado global da batota". Leio também que um líder político não subvencionado pelo Estado quer que os cidadãos ponham o Estado nos tribunais do Estado por este ir à bolsa da classe média, bolsa esta que também paga os vencimentos dos juízes, dos médicos, dos professores, dos polícias e dos generais. E percebo que as odaliscas habituais já não podem continuar a assistir passivas ao festival socialista e social-democrata que nos levou à quase falência.



O processo de liberalismo em curso, desencadeado pelo presente governo socialista, merece, sem dúvida, o espírito da chamada unidade nacional. Rejeitamos, contudo, que sejam os funcionários públicos e a chamada classe média que tenham, mais uma vez, que pagar as favas da demagogia politiqueira. Se o dito Estado-Providência se tornou num Estado-Falência, concordamos com o alarme de Medina Carreira, para quem é legítimo que se divulguem publicamente as declarações de IRS de todos os contribuintes e que se combata a fraude e evasão com o levantamento do sigilo bancário. Por ser uma questão de moralidade acabar com as subvenções vitalícias dos deputados. Até porque só nos últimos 4 anos os gastos do Estado com protecção social cresceram a um ritmo de 150 milhões de euros por mês. Por isso, defende uma diminuição nas reformas mais altas e admite que sejam dispensados funcionários públicos.



Só me custa ver que o tal discurso quanto à moralização da administração pública continue a ser feito por alguns que representam o pior do que houve a nível do negocismo feito "outsourcing", através das muitas sociedades de economia mística, encabeçadas pelos desempregados da partidocracia. Se não forem denunciados os responsáveis pelo caos a que chegámos, se não pudermos determinar quais os honestos que geriam corruptos e quais os corruptos que geriam honestos, a partidocracia continuará a manipular-nos, a tomar medidas contra os outros e a não ter a coragem simbólica de ela própria oferecer ao povo um acto de coragem: tomar a decisão parlamentar de renunciar à mesma percentagem de subvenções estaduais que vai ser tirada aos chamados funcionários públicos e à chamada classe média.



Reforcei ao minha convicção pelo "não" quando ontem assisti a um debate da televisão francesa, depois da intervenção de Chirac, com o entusiasmo sinzista do Daniel Cohn-Benedict. Porque, por cá, nunca subscreveria um "não" para o qual "mais soberania é igual a melhor democracia". Apenas temo que a Europa deixe de ser uma democracia de muitas democracias, um universal pela diferença, caso vença esta onda plebiscitária quase à maneira dos delírios dos impérios napoleónicos, onde quem não é bom giscardiano, bom chiraquiano, bom sampaísta ou bom policarpizado não é bom francês, bom europeu ou bom português. Prefiro o belo gesto do "não" que, em horas de decidir, sempre tomou o querido zé povinho. "Queres fiado, toma!".