Manuel Monteiro
Alguns dos meus postais sobre o recente congresso do CDS e aquilo que, livremente, sugeri sobre a postura do PND causaram inevitável polémica em várias zonas da blogosfera. À mais brejeiras, decidi responder por "mail", sem rancor, à política, com resposta política, mas faltou-me acrescentar uma postura de honra, face a certos equívocos. Posso discordar politicamente do meu companheiro de luta e amigo Manuel Monteiro e seria cobarde fazê-lo só porque ele foi derrotado pelas circunstâncias. E se lhe faltei ao respeito, peço-lhe públicas desculpas. O Manel, para quem o conhece é um animal de honra, antes de ser um animal político. E até tem a humildade de reconhecer erros cometidos.
Nunca o acompanhei na aventura do Partido Popular, mas vivi com ele o lançamento do projecto político do Partido da Nova Democracia, depois de um pacto de cavalheiros, onde sempre dissemos um ao outro o que pensámos, naquilo que, na primeira conversa sobre a matéria estabelecemos. Sempre defendi a regionalização, contra o que ele pensa; sempre defendi a descriminalização da IVG, contra o que ele combate; sempre lhe disse que era nacionalista e federalista, em matéria europeia, contra o nacionalismo soberanista que ele assume. De resto, quase sempre acordo, mas com divergências que, mesmo antes das legislativas, se agravaram.
Sou co-autor de uma longa e inequívoca análise das divergências que, por enquanto, não posso divulgar, pelo acordo de cavalheiros estabelecido. Nesse documento se contêm as razões que me levaram a não participar na Convenção da Nova Democracia e ele foi o seu primeiro leitor. Não julgo que tenha sido curial a atitude de alguns mais maneleiros que o Manuel Monteiro e reagi vivamente, ao mesmo tempo que apontei uma possível via de humildade estratégica, a que chamei "paz dos bravos", dizendo que nela não participaria. Mais nada.
Com isto não lhe quis faltar ao respeito que merece e se o fiz peço públicas desculpas. E declaro que se o Manuel Monteiro abandonou dolorosamente o CDS, onde é histórico, e o PP, que fundou, fê-lo em nome de claros e inequívocos princípios, isto é, de valores e crenças, de doutrinas e ponderadas análises. Nunca por causa do poder pelo poder. Ser-lhe-ia, aliás, bastante fácil aguentar e ter paciência, esperando que o fruto caísse de pôdre, numa atitude maquiavélica. Ou, então, aceitar um asilo dourado ou um alto tacho de Estado, como lhe foi oferecido, tanto pelo Partido Socialista como pela própria direcção de Paulo Portas para o silenciar. E Monteiro teve a coragem de querer viver como pensava, de ir à luta e de contar os votos. Foi traído muitas vezes e nunca o vi trair. Foi alvo de tentativas de compra e nunca o vi ceder. É, sem dúvida, dos melhores e provados valores da política portuguesa.
Com isto, não quero dizer que não o possa criticar. Fi-lo, por dentro, institucionalmente, e tenho-o feito aqui, não contra ele, mas a favor de princípios e sentindo, talvez erradamente, confesso-o, que chegou a hora das grandes decisões. Não só as dele mas também as de quem também queira sentir que estamos numa encruzilhada, onde há caminhos de convergência e de divergência. E eu sinto, particularmente, que nem todos os liberais são neoliberais e que nem todos os democratas-cristãos são tolerantes, tal como nem todos os conservadores são imobilistas. Julgo ser inequívoca a minha postura e já o proclamei sem mesuras. Mas não disfarçarei as divergências, desrespeitando quem o não merece. Mas chegou para mim o momento de dizer que não vou por aí. Propus um caminho que não foi aceite, submeti-me para sobrevivermos institucionalmente, lutarei para continuar a viver. Nunca me arrependerei de continuar amigo de Manuel Monteiro. Não tenho que regressar ao Partido Popular e a minha relação com o CDS sofreu de prescrição extintiva, ainda antes da queda do Muro. E ninguém como eu se banha duas vezes nas águas do mesmo rio.
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