a Sobre o tempo que passa: A loucura dos "talibans" europeístas e a sabedoria de alguns dos nossos professores de democracia

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.4.05

A loucura dos "talibans" europeístas e a sabedoria de alguns dos nossos professores de democracia



Faria bem a qualquer desses "talibans" do pretenso europeísmo, aos que confundem a coisa com o seguidismo face à dita Constituição Europeia, para defenderem o emprego eurocrático ou para se situarem na fila rebanhal do partidarismo supranacional, que fosse meditada a voz sensata de António Barbosa de Melo de de António Almeida Santos, dois antigos presidentes do nosso parlamento, na TSF de hoje, comemorando Abril. O primeiro foi veemente ao considerar que o dito texto estava "abaixo da racionalidade europeia" e que se o mesmo documento não passar "arranja-se outra coisa melhor", denunciando a virulência chiraquiana da ameaça do tudo ou do seu nada. Já o segundo também se manifestou contra a hipótese de referendarmos um texto com centenas de artigos.

O meu querido amigo e mestre Barbosa de Melo, a quem devo muito de quem sou, porque soube apoiar-me quando a virulência da mentira e da infâmia pintavam de negro quem era branco, sempre foi tão modesto e austero na sua sabedoria que, respeitando as exigências do "cursus honorum" da vida universitária, renunciou a cumprir aquilo que merecia. Mas não é por isso que deixa de ser o professor dos professores. E se eu mandasse proporia uma lei não geral e não abstracta que lhe desse essa categoria de máximo, no activismo universitário.



Já Almeida Santos é mestre insigne nessa raiz da democracia a que se chama palavra em conversa, de acordo com a velha definição de Aristóteles, segundo o qual o "zoon politikon" sempre foi um animal de "logos", isto é, animal de discurso, numa etimologia que muitos confundem com o animal racional, do estreito racionalismo geométrico. É pela palavra que aprendemos a viver-com e a prender-com, a conviver e a compreender, e sem discurso, sem palramento não há parlamento. Ele é, sem dúvida, o mestre dos conversadores pedagógicos da nossa democracia.

Com que gosto, eu ouvi estes meus queridos professores de democracia, feitos de convicção e qualidade, de honra e inteligência. Já outros, que usam e abusam da categoria do "ausente-presente", seria bom que não usurpassem, pelo abuso mediático, a função do senador, contribuindo para o desprestígio da sabedoria, dado que, como gerontes intervencionistas, viciados em protagonismo sem recato, continuam a misturar a ideia decadente de "brigada do reumático" com o activismo histérico do MRPP.