Bacalhau à Mouraria, é sempre prato do dia!
Uma centena de manifestantes vai hoje passear-se em Lisboa a partir do Martim Moniz. Dizem querer um Portugal branco e limpo, talvez para propagandearem detergentes. O governo civil autorizou a movimentação. E muito bem. Nada melhor do que os balões esvaziados. A raça pura lusitana, onde se incluem os dez por cento de escravos negros que faziam parte da população de Lisboa no século XVIII, os muitos judeus que viraram cristãos novos, os imensos mouros que não voltaram a Marrocos, bem como outros tantos saloios e restantes viajantes, apenas não repara que os verdadeiros portugueses são mestiços. Nada melhor do que tudo acontecer na velha Mouraria. É o que anota este nacionalista, de origens moçárabes e mestiçagens cristãs-novas que, desde o século XVIII, se arraçou com emigrantes da ilha de Malta, que invadiram Portugal a partir da Golegã.
Porque no Martim Moniz, onde havia a Mouraria, há feira todos os dias, onde todos compram de tudo: meias, fatos, fotos, todos os cacos de um negócio ambulante, contrabandista. Estereofonia "made in taiwan", calças de marca feitas no minho e sapatilhas de macau. Feira de pretos, brancos, ciganos, chinocas, hindus, soldados, retonados, feira de todo o mundo, mesmo às portas da Europa. Até se vendem santinhos numa gaiola prefabricada, decorada à maneira de Lisboa antiga. E há um ervanário agora dito macrobiótico, que tem ervas pró rins e prós intestinos. Mais adiante, numa tasca cheirando a fritos, untosos "hamburguers", em vez de pregos e bifanas. Sobretudo, bacalhau à Mouraria, é sempre prato do dia.
Continuo a ser intolerantemente contra a intolerância. Especialmente quando me assumo como nacionalista.
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