Continua a pilotagem automática desta governança sem governo
Perante os dramas do défice e as incertezas do rumo europeu, os nossos donos do poder começam agora a reparar que a massa do povo vai ganhando consciência do vazio político que recobria a pilotagem automática desta governança sem governo, plena de falsos "amanhãs que cantam", que nos tem marcado na época pós-revolucionária. Soarismo e cavaquismo, tal como os seus frustrados sucedêneos, do guterrismo ao barrosismo-santanismo, apenas foram ilusionismos que conseguiram aguentar-se em tempos de vacas gordas, mas que agora já se vislumbram como solenes nadas, quando a verdade nua e crua da factura nos é apresentada e, mais uma vez, ameaça ser paga pelos justos cumpridores, mas não pelos habituais pecadores da fuga ao fisco.
Afinal, os sábios avisos de quem nos aconselhava a vivermos com aquilo que temos e produzimos deviam ter sido seguidos. Nunca deveríamos ter caído na tentação rotativista de dividir o bem e o mal entre o PS e o PSD, sucessivamente, com cansativas acusações recíprocas desses irmãos-inimigos, cada um a dizer que o outro é que era pesada herança da breve tanga. Porque, entretidos nos meandros desse mais do mesmo, ficámos assim algemados a um vazio de estratégia nacional, dado que o supremo valor passou a ser o impulso externo que nos vinha das encruzilhadas europeias. Até chegámos ao presente paradoxo de podermos ter mais um referendo condenado ao fracasso.
Com efeito, pedem-nos que sufraguemos um nado-morto, confundindo esse cadáver apenas adiado com o ideal europeu. Aliás, se a nossa classe política dominante prosseguir numa opção que, de um momento para o outro, pode ser reduzida a pó, pelo conjuntural de uma cimeira europeia, ainda maior será o desnorte daqueles comandantes que parecem satisfeitos com a circunstância de se assumirem como simples potência secundária, face ao directório daqueles grandes que se proclamam como a locomotiva de uma geometria variável.
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