Elogio do situacionismo e dos cadaverosos prensadores de epitáfios
Imagem picada em Substrato
Confesso que hoje voltei a cair na tentação de me deixar unidimensionalizar como espectador e auditor dos telejornais, quebrando esta libertação de férias. Até me deixei enredar pelas disputas futeboleiras entre os militantes laranjas que se pintam de verde, vermelho e azul, especialmente quando estão em causa as respectivas campanhas autárquicas. Por isso, ouvi o discurso de revolta de Valentim contra os que entraram na política profissional quando andavam de cueiros e que são meros líderes de transição, devido à baixa estatura. Sorrio. E releio agendas de há seis anos, onde, sentindo o guterrismo, já antevia a dor colectiva que todos vamos sofrendo agora.
Um actor bastante conhecido e bastante semelhante ao sobredito que não cito
Porque já então a síntese do situacionismo era o ainda publicável grão-mestre das citações, elevado a ministro pela via dos soaristas e dos companheirismos salazarentos, numa altura em que a democracia pós-revolucionária se transformava num situacionismo rigorosamente controlado pela casta banco-burocrática que começava a perder a vergonha por ter gerado o marcelismo.
Foto de Eduardo Gageiro, com Durão jovem vermelhaço
Já então os governos começavam a configurar-se como meros agregados de ministros do reino por vontade estranha, desses que, metendo as ideologias na gaveta, iam fazendo discursos de um político geométrico, capaz de os alcandorar à Ordem da Liberdade, entalados entre Otelo Saraiva de Carvalho e os U-2, só porque alguns antigos ministros de Salazar têm pejo em pedir para si tal latoaria.
O actual MNE antes de não ser candidato a presidente e supremo educador dos tugas
Já então se vivia o interregno presidencial do sampaísmo, depois do soarismo da matura-idade e sem ainda se pensar que ele poderia voltar a ser um soarismo geriátrico, apesar de já serem patentes as escleroses da democratura, feita cadáver adiado que ia procriando deputados, ministros, autarcas e administradores bancários por parte do Estado, para além de condecorações do 10 de Junho.
Ontem como agora, o país continua a ler as lengas-lengas dos mesmos cadaverosos prensadores de epitáfios, candidatos a supremos comendadores das ordens honoríficas da ética republicana, a mandatários desta desordem bem organizada, chamada regime.
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