a Sobre o tempo que passa: A limpeza coerciva das matas e os dragões de papel do socialês

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.8.05

A limpeza coerciva das matas e os dragões de papel do socialês

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Portugal pode ser hoje objecto dos comentários jocosos de um célebre jornalista alemão que, muito cruamente, nos caracterizou pelos dez estádios para o Euro 2004, pelos saldos, pelas férias e pelos incêndios, mas não pode esquecer que somos a floresta mais minifundiária do mundo, com cerca de meio milhão de proprietários florestais, onde quem quer que saiba fazer contas pode calcular quantos orçamentos de Estado nos custaria limpar a mata privada. Por isso são curiosos alguns discursos de certo subconsciente do socialismo utópico que bem gostaria de nacionalizar essa mancha oriunda da pesada herança dos nosso proprietarismo liberal, quando entoa discursos típicos dos que podem prometer mas não conseguem cumprir.

Assim, o Presidente Sampaio, salientando o facto de actualmente 90 por cento da floresta ser privada, havendo «uma enorme percentagem que não é limpa», defendeu, a título pessoal, que «está a chegar o momento de equacionar» a aplicação do princípio da obra coerciva à limpeza das florestas, «tal como acontece com os prédios nos aglomerados urbanos». Mais acrescentou que, face aos danos que os fogos «projectam na comunidade» nacional, esta é uma questão que «não pode ser compatível com a ausência da capacidade de intervenção junto daqueles que são proprietários e que não cuidam da floresta que têm a seu cargo».


Ainda no começo do Inverno passado, o então ministro da Agricultura proclamava que o problema crónico dos incêndios em Portugal tem uma causa bem definida «o abandono sistemático da terra e a consequente acumulação de resíduos nas florestas. O modo ancestral como os portugueses se relacionaram com a terra e a floresta e que permitia uma limpeza e vigilância constantes sobre o território pertence ao passado». Também acrescentava que se não limparmos o que durante trinta anos se sujou, tudo continuará na mesma, «o maior esforço continuará a ser feito apenas no combate e a floresta vai continuar a arder». «Só a partir deste trabalho inicial poderemos pensar em gestão eficiente da floresta, em prevenção efectiva dos incêndios e em valorização económica dum património nacional que é, no meu entender, um factor crítico para o sucesso de Portugal.»

Basta fazermos contas: o território português tem 9,2 milhões de hectares dos quais 3,3 milhões são floresta representativos de 3,2 do PIB nacional e responsáveis pelos postos de trabalho de cerca de 3% da população activa. Logo, só poderemos resolver um problema económico com medidas económicas, mas não apenas com medidas económicas. Portanto, saibamos quantos orçamentos de Estado pode custar aquilo que era a necessária limpeza coerciva das matas e entendamo-nos: os proprietários florestais só limparão a coisa quando ela voltar a ser economicamente compensadora e a nossa agricultura deixar de ser uma simples subsidiária de uma PAC feita para certas parcelas da Europa, onde há enxurradas nos meses de Verão. Ninguém consegue fazer economia contra as condições edafoclimáticas, tal como ninguém devia fazer florestação exótica. Os responsáveis por esta ideologia pseudo-desenvolvimentista, consagrada pelo cavaquismo, cometeram um verdadeiro crime de lesa-majestade que não pode ser punido, invocando-se o subconsciente nacionalizador de certos dragões do socialês!...