a Sobre o tempo que passa: Sejamos independentes e dignos dos objectivos nacionais permanentes!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.11.05

Sejamos independentes e dignos dos objectivos nacionais permanentes!



Dizer que a morte de um soldado em combate equivale a um simples acidente previamente admissível pelo tecnocrático cálculo das baixas de uma missão militar ou acentuar que o mesmo é um mero voluntário reduzindo a trágica circunstância ao aleatório do jogo da vida e da morte numa profissão de risco é negarmos o nosso próprio fundamento nacional. Quem não entender que as pátrias são comunidades simbólicas fundadas em laços de amor nunca poderá assumir que só podemos amar as coisas pelas quais estamos dispostos a dar a vida.



Quadro de Sousa Lopes, Museu Militar de Lisboa

Aliás, neste regime que deve a sua existência e estabilidade tanto a um golpe militar como ao voluntário regresso dos militares aos quartéis, pela renúncia ao poder de controlo da legalidade revolucionária, temos assitido, sem muitos queixumes, à redução das próprias forças armadas a um mero corpo técnico, destinado a intervenções cirúrgicas de pequena monta, como auxiliares dos nossos tradicionais aliados. Nota-se até um certo clamor que as pretende transformar em mero sucedâneo de forças policiais ou civis, nomeadamente de bombeiros e guardas fiscais. Mais recentemente até as deixámos enveredar por redutores movimentos sindicais, com muitos comunicados e notas oficiosas, em ritmo de guerra de papéis, a que não faltou o espectáculo das manifestações de rua ou de jantar.



Transformámos até aquilo que eram prestigiadas instituições de consenso nacional em quase clubes de certas cliques universitárias ou de gabinetes de estudo de fragmentações sediciosas, promovidas por ministros do reino de vontade estranha, que usaram e abusaram do saneamento e da inquisitorial devassa, num ambiente mais próximo do politiqueirismo das comadres e dos compadres que do necessário esforço de pensamento convergente com os objectivos nacionais permanentes. Não faltam imensas guerrazinhas de homenzinhos, com telenovelas, passagens de modelo e tragicomédias, onde entraram espiões e simuladas fugas aos segredos de Estado que ainda há não muitos anos até levaram à demissão de um venerando ministro.



Por mim, não gostaria de ver resvalar as nossas forças armadas para uma tecnocratice que as venha a enfileirar nas teias integradoras de uma nova Grande Armada, que se julgue invencível e acabe derrotada. Nem gostaria de meras chefias que se reduzissem a engenheiros da teoria das organizações, capazes de um grau de prontidão interessante na execução das ordens de um qualquer "big brother" que nos faça parcela de um super-sistema independente da vontade nacional. Preferia instaurar um regime militar helvético, como chegou a ser sonhado pelo governo provisório da Primeira República.

Repito o que há dias aqui enunciei: não há democracia sem soldados. Não há política sem democracia. Não há democracia sem pátria.