a Sobre o tempo que passa: Notários da república, ideologismos importados, anticlericais, governos que não tomam posse e guerra em Angola, com invenção da Web pelo meio

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.1.06

Notários da república, ideologismos importados, anticlericais, governos que não tomam posse e guerra em Angola, com invenção da Web pelo meio

Sábado, como todos os sábados, mas sem ainda ter lido o “Expresso”, recordando que em 2001, neste dia, Sampaio foi reeleito presidente e que, em 1872, José Fontana promoveu a fundação da Associação “Fraternidade Operária”, três anos antes de desencadear o Partido Socialista. A associação assumia-se como bakuninista, o partido como marxista, nesses ideologismos sem autenticidade em que somos férteis, tal como, cem anos depois, os mesmos importadores e tradutores em calão de ideologias exógenas, dos ventos da moda que passam de moda, se hão-de esgadanhar entre estalinistas maoistas e estalinistas cunhalistas, com trotskistas em bicos de pé, para que todos depois acabassem repartidos entre as comissões de honra de Cavaco e Soares, com Sampaio feito supremo notário da República e outros ex-MES capitaneando rebanhos de outras crenças.

Outra efeméride que vale a pena recordar tem a ver com a manifestação em Lisboa da Associação do Registo Civil, fazendo uma curiosa procissão que tinha como santíssimo o sacramento do “Sem Deus nem Religião”, quando as vulgatas de certo positivismo naturalista, de importação parisiense, com algumas pitadinhas de Haeckel, tinham transformado um século de maçonaria liberal, azul e branca e herculanista, no mau-gosto anticlerical, para uso de caixeiros e tendistas da capital, onde alguns assumiam a loucura messiânica de misturarem o “bacalhau a pataco” com o “enforcar o último padre nas tripas do último papa”, depois de uma visita às campas dos regicidas, para que as energias criadoras libertadas pela instauração do sonho republicano se esgotassem em tricas e baldrocas, enquanto os opositores preparavam, muito reaccionariamente, um anticongreganismo congreganista que, a partir de 1928, vai instaurar uma viradeira decadentista e autoritária, com que afinámos o subsistema de medo inquisitorial.

É por isso que amanhã, domingo, teremos como efemérides, a tal data de 15 de Janeiro de 1920, quando a nova república velha do pós-sidonismo até levou à nomeação de um governo, liderado por Fernandes Costa, que, nesse dia, foi impedido de tomar posse, perante uma arruaça ao serviço dos afonsistas do Partido Democrático. O governo de Fernandes Costa era do partido resultante da união dos almeidistas e dos camachistas, dito liberal, e até seria aziago que ele se implantasse no mesmo dia em que, no ano de 1911, António José de Almeida tinha fundado o jornal “República”. Aliás, amanhã, domingo, no ano de 1975, seria assinado o frustrado Acordo do Alvor, com o MPLA, a FNLA e a UNITA, que não conseguiu garantir aquilo que era o sonho de uma descolonização pacífica de Angola, quando os nossos políticos eram ignorantes da ciência das relações internacionais. Vale-nos que nesse mesmo dia, no ano de 1992, Tim Berners-Lee fez a apresentação pública daquilo que é o meio comunicacional que estamos neste momento a usar: a “World-Wide Web”....