a Sobre o tempo que passa: Do homem lobo do homem ao homem rato do homem

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

31.5.06

Do homem lobo do homem ao homem rato do homem



De vez em quando, reparamos que, se não houver boa cultura e boa educação, a sociedade humana pode regredir, voltando ao nível de continuidade das sociedades animais. Porque, em ambas, existem animais agressivos, marcados por organizações hierárquicas e onde até se distinguem nitidamente os papéis reservados para o masculino e o feminino. Nas sociedades humanas, apenas podemos estabelecer medidas para limitarmos a agressividade, para canalizarmos os respectivos excessos, mas não para a eliminar. Aliás, a chamada democracia não passa de um simples sistema de institucionalização de conflitos e o direito daquele reconhecimento da circunstância de o homem ser um animal de regras, onde as regras só o são porque podem ser desrespeitadas.




Como ensinou Konrad Lorenz, o ser humano é um animal agressivo como todos os outros animais. Não vivemos apenas segundo a fórmula de Hobbes, do homem lobo do homem, mas também segundo o lorenziano acrescento do homem rato do homem, dado que, por vezes, o homem se assemelha ao dito, pois, ao contrário dos animais normais, como o lobo, o homem, tal como o rato, mata os rivais da mesma espécie, ao contrário dos restantes que apenas matam os de espécie diferente, procurando, para os tais da mesma espécie, apenas mantê-los à distância, quando se visa conquistar um simples território alimentar. Porque, em casa onde não há pão, todos ralham e todos têm apetite de rato...