a Sobre o tempo que passa: Contra a linguagem obscena e imprópria

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.2.07

Contra a linguagem obscena e imprópria



Leio que o CSM decidiu que um colaborador do semanário dissidente do "Expresso" divulga blogue com linguagem considerada obscena e imprópria, ainda por cima da autoria de um juiz. Curiosamente, todos os telegramas emitidos a partir da Lusa não se dão ao trabalho de ir ao "Google" e fazer a linhagem do companheiro de redacção blogueira do Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa. Fui reler os postais do juiz em causa e imagino o que seria do Conselho se Walter Hugo Mãe fosse magistrado.


Poderiam todos correr no ridículo de uma cena de antigo regime, quando um professor universitário foi demitido por verberar a atitude do ministro da educação, depois de prévio processo instruído por um futuro provedor de justiça da democracia, e graças ao despacho de um ministério com um ministro que ainda anda por aí a teorizar a democracia. Será também interessante verificar como se sairá o CSM da censura que quer fazer às censuras do sobrejuiz Rangel.

De qualquer maneira, pode concluir-se que os magistrados são intensos frequentadores da NET, mas aconselha-se, aos que tendem para o bloguear, que façam como muitos dos meus colegas e antigos alunos: continuem a usar do anonimato, utilizem a "network" dos "mails" e descodifiquem a coisa apenas para os iniciados.



As centenas de comentários que constam do blogue soleiro em causa, com parte significativa deles vindas de colegas magistrados, constituem uma prova viva da parte viva da nossa magistratura. Seria bem curioso que os investigadores neteiros caíssem sobre o jornal em causa e tratassem de descodificar os computadores dos tribunais e os computadores pessoais dos magistrados e outros operadores judiciais que os emitiram. Seria bem mais interessante que, de investigação em investigação, juntassem num grande servidor esses desabafos magistrais, criando um gigantesco banco de dados para a psicanálise do aparelho de administração da justiça.

Porque, como diria Luís Vaz, vale mais experimentá-lo do que julgá-lo, mas julgue-o quem não puder experimentá-lo... Basta salientar que no CSM há d
ois vogais designados pelo Presidente da República, sete vogais eleitos pela Assembleia da República e sete vogais eleitos pelos Magistrados Judiciais, onde, pelo menos, quatro são ilustres doutorados, um indicado por Belém e os outros pelos partidos. Não tarda que lá para as bandas do Corpo Santo se agitem as teclas.