a Sobre o tempo que passa: Confundir uma lombriga com uma cobra cascavel

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.10.07

Confundir uma lombriga com uma cobra cascavel


Deu-se aqui um verdadeiro cataclismo. Caiu numa manhã uma tradição de sete séculos, sacudida por um estremecimento social que só tem equivalente num tremor de terra. Rolou por terra um trono, sob uma chuva de granadas, e um rei espavorido tomou o caminho do exílio, num batel de pescadores. Tudo o que fazia a sua omnipotência caiu com ele e foi subvertido – a corte, a nobreza, o governo, o parlamento, o seu palácio e a sua guarda (João Chagas).

A implantação da república foi um bambúrrio, diz-se. Mas não se esqueçam de que tudo estava preparado por dentro para esse bambúrrio...bastou o estrondo para desabar o trono (Raul Brandão).


Se considerarmos, a título de exemplo, as revoluções do século XX, será forçoso reconhecer que, com toda a evidência, as revoluções portuguesa e turca são burguesas. Mas nem uma nem outra são “populares”, pois a massa do povo, a sua imensa maioria, não intervém de uma forma visível, activa, autónoma, com as suas reivindicações económicas e políticas próprias, nem numa nem na outra destas revoluções (Lenine).

Metade do país é monárquico; metade do país é republicano…Por qualquer razão, que não nos compete investigar, os republicanos estão mais organizados que os monárquicos; noutras palavras, a maioria republicana activa é mais activa que a maioria monárquica activa (Fernando Pessoa)

Pretender equiparar o espírito revolucionário da Rotunda com o espírito revolucionário da Revolução Francesa é incorrer perante a sociologia e perante a história em tão imbecil equívoco como seria em zoologia o de confundir uma lombriga com uma cobra cascavel. No dia 5 de Outubro, em Portugal, não havia opressão e não havia fome… Os famosos princípio da Revolução Francesa, leit-motiv de toda a cantata revolucionária de Outubro último, são, precisamente, os que vigoram em toda a política portuguesa, desde o advento da revolução liberal de 34 até aos nossos dias (Ramalho Ortigão, em Julho de 1911)