a Sobre o tempo que passa: Viva o sol de inverno...em dia da mudança da capital para o Brasil

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

21.1.08

Viva o sol de inverno...em dia da mudança da capital para o Brasil


Ontem, foi dia de sol de Inverno e não fomos obrigados a vestir a farpela para aturarmos discursos de estadão, emitidos em pleno delírio doméstico pelo primo da tia do sobrinho do senhor banqueiro, como tal nomeado depois de ter sido secretário de estado, a fim de garantir um suplemento de reforma. Ontem o sol venceu o cinzento e não houve notícias. Aliás, Luís Filipe Menezes não mostrou a queixada no telejornal e o "agenda setting" foi marcado por Sócrates a inaugurar uma biblioteca municipal e por Jerónimo a defender o SNS, apoiado pelo cunhado de sua excelência o professor catedrático de saúde pública, ex-director do INA. Afinal o Sporting e o Benfica lá ganharam os primeiros jogos oficiais de 2008.


A semana passou, com Lisboa em sobressalto pelo ataque de mau-cheiro de um frasquinho de enxofre que uma empregada da limpeza defenestrou para um baldio dos traseiros da faculdade de farmácia e que espalhou o pânico na capital, obrigando à mobilização de polícias e serviços de protecção civil e defesa do ambiente, com a evacuação de edifícios públicos. Isto é, os paquistaneses terroristas foram apenas detidos em Barcelona, mas por cá as televisões fizeram emocionantes directos sobre a matéria.


Hoje é mais uma semana que começa. Neste dia da morte de Lenine (1924) e de Orwell (1950), quando Galvão e a sua equipa começaram o assalto ao "Santa Maria" (1961) e, sobretudo, quando a capital de Portugal foi de barco para a América do Sul e desembarcou no Brasil (1808), nessa operação inédita que nos tornou no único país da Europa que já teve a cabeça noutro continente, há duzentos anos. Na altura, a integração europeia obedecia ao ritmo imperialista de Paris, com um italiano afrancesado chamado Napoleone que, só por acaso, não estava casado com a Carla Bruni, embora também já tivesse a intenção de se assumir, pelas parangonas, rei do continente.