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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.3.08

O situacionismo, como uma ampla coligação da direita dos interesses com a pretensa esquerda moderna


Entretido que tenho andado com o estudo dos meandros das nossas guerras civis da Primeira Dinastia, com directa intervenção da Europa feudal e das estruturas eclesiásticas que o papa comandava à distância, apenas reparo como o partido dos fidalgos, ou partido senhorial, continua a subverter a autoridade pública. Noto também coincidências feudais dos esquemas caciqueiros da partidocracia com as velhas fraquezas lusitanas, plenas de encomendações, entre a Dona Maria da Cunha e o mais global processo da compra do poder, num tempo em que os barões já não são assinalados pelas missões de serviço público.


Sócrates e Menezes, donos de duas grandes federações de grupos de interesse e de grupos de pressão, infra-estrutura social em que se apoiam as duas secções nacionais de duas grandes multinacionais europeias, vão aquecendo os motores para a campanha eleitoral, fingindo que são homens comuns, numa série de entrevistas que a Raquel Alexandra da SIC excelentemente protagonizou, para nos fazer esquecer a maior crise bolsista desde a Segunda Guerra Mundial. E lá nos vamos entretendo com as questiúnculas palacianas dos adversários do senhor de Vila Nova de Gaia, ou com o mais recente apoio ao socratismo, vindo do grande advogado de negócios, Daniel Proença de Carvalho, o tal que Sá Carneiro chegou a qualificar como ministro da propaganda de um certo governo eanista, feito de dissidentes do PPD.


Curiosamente, as parangonas televisivas anunciavam-no como histórico do PSD, quando, segundo consta dos registos curriculares, ele foi do PCP e, depois de Abril, militante do PS, apesar de certos meios da CIP o insinuarem como potencial presidente do CDS, antes do regresso de Diogo Freitas do Amaral. O elogio que fez ao situacionismo apenas confirma como o dito cujo, liderado por Sócrates, se assume como uma ampla coligação da direita dos interesses com a esquerda moderna, o que pode constituir um excelente estímulo para o populismo do presente PSD se assumir como animal acossado e animal feroz, coisa que pode levar-nos a sair do cinzentismo, aumentando a necessária excitação do risco.