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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

16.4.08

Seria melhor que, do país de Maquiavel, Mazzini, Gramsci e Mussolini, fizéssemos uma espécie de laboratório prospectivo


O essencial da democracia pluralista e do Estado de Direito não está em procurar saber quem manda através da obtenção de uma maioria, como as obtiveram Alberto João Jardim, Berlusconi ou Sócrates, os tais que escolhem ministros como Mário Lino, Correia de Campos ou Maria de Lurdes Rodrigues. O essencial da democracia está no estabelecimento do diálogo entre adversários, como dizia Ortega y Gasset, ou em controlarmos o poder dos que mandam, através do sistema de pesos e contrapesos, visionado por Montesquieu. Melhor ainda: o essencial da democracia está em podermos fazer um golpe de Estado sem efusão de sangue, como dizia Karl Popper. A democracia mede-se menos por resultados eleitorais e mais pela prática governativa das maiorias absolutas. A democracia vive-se e mede-se pela distância que vai da teoria à prática.


A Itália tem agora Berlusconi porque antes teve Prodi, duas faces de uma mesma moeda que deram origem às presentes escolhas do povo soberano. E o povo soberano, mais uma vez, mostrou como está farto dos políticos profissionais, do Estado dos Juízes, das mãos sujas da corrupção e dos mafiosos e das pretensas mãos limpas dos magistrados que, depois de viverem dos processos mediáticos se assumiram como imitadores de políticos mediáticos.


E a Itália não é o Zimbabué. Até está bem mais desenvolvida, económica, política, social, cultural e universitariamente do que Portugal. Tem os melhores pensadores políticos do mundo, os melhores empresários, os melhores cineastas e os mais destacados europeístas do mundo. Até lá vivem os papas e os cardeais.


Seria melhor que, do país de Maquiavel, Mazzini, Gramsci e Mussolini, fizéssemos uma espécie de laboratório prospectivo. Porque, pensando no nosso futuro, de acordo com os actuais conceitos de desenvolvimento, seria melhor concluirmos que eles estão numa estação ferroviária de nível mais próximo do fim da história do que nós, onde Maria José Morgado não é ainda o juiz Prieto e os líderes da esquerda ainda não são os nossos disisdentes do PCP que podem vir a ser ministros do PS.


Até os elogios do blogue de Pedro Santana Lopes a Berlusconi e o desejo de Paulo Portas imitar Fini são peças de mera ópera bufa. O Benfica tem Luís Filipe Vieira e a coisa mais próxima que por cá temos de Berlusconi chama-se Pinto da Costa. Ainda temos muitas estações de desenvolvimento para visitar antes que tenhamos umas eleições como as de anteontem em Itália. Até amanhã! Vou dar uma aula sobre o italiano Tomás de Aquino...