Acabo de ouvir extractos da entrevista de Paulo Pedroso que a TSF vai emitir esta tarde. Apenas saliento que ela equivale à entrevista de Menezes a Mário Crespo, marcando o regresso da luta política e anunciando a hipótese de uma nova dialéctica dentro de um PS, farto de certos moralismos que Pedroso qualifica como "conservadorismo". Por outras palavras, verifica-se que regressa um dos principais líderes de um PS de esquerda, disposto a pescar nas águas dos antigos votantes PS que têm mostrado preferências nas sondagens pelo PCP e pelo BE. A maneira pouco preconceituosa como falou na eventualidade do Bloco Central revela como, às vezes, faz bem certa travessia do deserto. Esperemos que seja, agora, dada voz a outros socialistas, como, por exemplo, António José Seguro, libertando o partido das cangas dos fidalgotes e dos muitos mandarins da rede de micro-autoritarismos sub-estatais.
Não estranhem, habituais leitores, que nada tenha dito sobre os recentes meandros judiciais que envolveram Pedroso. Sobre a matéria, já disse tudo, e bem antes, aquando da prisão de Paulo Pedroso e dos testemunhos pessoais e silenciosos que lhe manifestei, como era meu dever, sofrendo das incompreensões dos que preferiram transformá-lo em bode expiatório. Como nunca votarei nas suas ideias, tenho toda a legitimidade para o reconhecer como um elemento imprescindível à dinâmica política de um regime que ficou empobrecido com os episódios que o marginalizaram, levando a que o cinzentismo bonzo, dito tímido e reverente, tivesse enredado um partido fundamental para a liberdade portuguesa.
Quando o debate sobre o socialismo democrático empolga grande parte da esquerda europeia, seria estúpido que, por cá, a esquerda preferisse o ritmo salazarento daquilo que qualifico como viradeira. Já nos chega uma direita marcada pela feudalização das personalizações do poder e a quase total ausência de um centro excêntrico, bem radical, mesmo quando assume aquilo que alguns qualificam como coragem de esquerda para se assumir como direita.
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