a Sobre o tempo que passa: Um quarto de hora antes da Grande Depressão, o regime ainda estava vivo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.9.08

Um quarto de hora antes da Grande Depressão, o regime ainda estava vivo



A mais institucional das nossas ministerialidades, atendendo, sobretudo, ao brilho das fardas a que costuma passar revista para as televisões, acaba de levar na cabeçona uma reprimenda do institucional-mor do Palácio de S. Bento, pouco antes do queirosiano seleccionador permitir que os "vikings", numa dessas operações de razia, nos fizessem morrer à vista de costa. Entretanto, Pedroso irritou profundamente os situacionistas, fazendo com que António Borges e José Lello emparelhassem e assim não comentassem as más notícias vindas da recessão europeia e, sobretudo, da espanhola, que agora tem que digerir a outra face da moeda Zapatero. Por outras palavras, o regime entrou na lucidez do avestruz, metendo a cabeça nas areias deste deserto de ideias e, como Monsieur de La Palisse, um quarto de hora antes daquilo que ontem avisou George Soros na RTP, emite comunicados e contra-comunicados, entre os dois palácios da coabitação. Por mim, tento ser coerente como homem livre e homem revoltado, prestes a cumprir minha missão.

No intervalo do jogo dinamarquês de Alvalade, ainda tive tempo para assistir à lição do mais presidencial de todos os nossos analistas e a quem atribuo o justo título de príncipe dos politólogos, pela primazia fundacional e pela superior qualidade do bisturi. Apenas digo que aprendi. Reitero: nenhum comandante da barca em plena crise, sabe como orientar o leme e faltam políticos com a intuição do risco, como Francisco Sá Carneiro. Dominam os bonzos e os seus subprodutos, sejam endireitas ou canhotos, nesta ditadura da incompetência, para utilizarmos terminologia dos últimos tempos da I República, o tal regime que caiu um quarto de hora antes da Grande Depressão.