Manuela, o fim do silêncio (in Diário de Notícias)
Manuela Ferreira Leite, se procurou vacinar-nos contra o populismo das anteriores lideranças do PSD, talvez tenha exagerado, quando não se assumiu como a necessária voz tribunícia de um centrão sociológico que não consegue expressar-se através do PCP, do Bloco e de Paulo Portas. Porque a qualidade da democracia exige a palavra da oposição, para que aqueles que não se sentem representados pela governança não caiam no pecado do indiferentismo e se abstenham da cidadania.
De qualquer maneira, para quem conhece a idiossincrasia de Manuela Ferreira Leite, há que sublinhar a dureza das respectivas palavras sobre a incompletude da democracia. Com efeito, a antiga activista da crise estudantil dos anos sessenta parece ter compreendido que o modelo de partido-sistema que se confunde com o Estado-Aparelho, dando sinais de querer também ela libertar-se da tentação do rotativismo do Bloco Central e da mão invisível de D. Tina (“there is no alternative”), a tal entidade que tem levado ao crescimento assustador da indiferença e do consequente desespero da compra do poder.
Neste ponto, julgo que o discurso de Manuela Ferreira Leite cumpre a sugestão de Cavaco Silva quanto à necessidade de não-resignação. Resta saber se o PSD está disponível para ser a voz tribunícia de todos os que são vítimas desta nova forma de autoritarismo docemente difuso, assente numa longa rede de micro-autoritarismos subestatais, onde, em muitos segmentos, não falta o colaboracionismo de alguns militantes do PSD, ainda à espera da manutenção da tradicional aliança da esquerda moderna com a direita dos interesses.
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