Os suíços fabricam os relógios, mas os africanos inventaram o tempo...
Angola, por estes dias, confirmou que deixou de ser nome de guerra, procurando um certificado de free and fair elections, onde pouco interessa um resultado que antes de o ser já o era.
Há a força dominante de um partido-sistema que já foi partido-único e que tende a ser uma espécie de partido revolucionário institucionalizado, ou um bloco central, de cujos dissidentes sairá a futura oposição eficaz, dado que a minoria institucional da UNITA, apenas representa uma espécie de oposição espiritual.
Vale mais salientarmos que a construção do político em África não pode ser mera aquisição de um modelo de pronto-a-vestir, adquirido, no hipermercado politológico das chamadas transições para a democracia, ou na "free shop" de uma qualquer mordomia subsidiada.
Até nem haverá democracia em África se ela não for uma democracia efectivamente africana, enraizada no chão moral de uma história sofrida. Logo, quem continuar a traduzir em calão modelos organizacionais que não se adequam ao corpo e à alma dos africanos está, na verdade, a trair todos os que lutam por este valor universal.
Porque a liberdade, enquanto libertação, implica espremer gota a gota o escravo que cada homem conserva, escondido, dentro de si. Porque apenas conseguimos passar de súbditos a cidadãos, quando nos autodeterminamos como homens livres.
Porque, se desapareceram os sinais exteriores da anterior repressão, permanecem os subsistemas de medo e é dominante o oficialismo bonzo do permanecente comunismo burocrático. Desde aquele que foi herdado do aparelho colonial, ao que foi hiperbolizado pelo afro-estalinismo e que tem, como contrapartida, uma agressividade negocista e corrupta dos que, rasgando os anteriores princípios, se fica pela técnica do enrichez, vous! e pelo capitalismo selvagem da sociedade de casino.
(in Diário Económico)
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