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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.11.08

Há dias em que o tempo que passa não me dá tempo para que o tempo de espírito permita que o pensamento se desvele


Há dias em que o tempo que passa não me dá tempo para que o tempo de espírito permita que o pensamento se desvele e se transforme em discurso. Porque, aqui, onde há Internet, ele é como aquela perspectiva do Gato Fedorento sobre o discurso de Marcello, sobre as coisas que há mas não há, porque ela há, mas pode não aparecer, talvez por causa de um acaso. Daí que tenha sido surpreendido pela nacionalização do BPN já muito depois do facto consumado e um pouquinho antes de Cadilhe se manifestar contra aquilo que Rangel do PSD qualifica como emergência do capitalismo de Estado. Prefiro, continuar a repetir o que Ramada Curto, o nosso socialista verdadeiramente histórico, dizia das empresas em Portugal: querem a nacionalizações dos prejuiízos para que, depois, se chegue à privatização dos lucros. Tenho a impressão que o assunto nada tem a ver com o nome de um ex-secretário-geral do PSD, de um ex-secretário de Estado de Cavaco e de muitas "connections". Apenas coincidências. Não se passa nada. Não acredito em bruxas, mas que as há, las hay. Prefiro estar atento à eventual mudança do mundo, seja quem for o eleito para a Casa Branca, embora as novas do que vier a acontecer na América já aqui cheguem quando o dia de hoje já for, aqui, amanhã.

Isto de falhar constantemente a Internet, mesmo que o sinal "wireless" seja excelente, faz com que muitas emoções e impressões se racionalizem em demasia.  Por exemplo, a emoção que senti, numa breve visita aqui dita aos distritos, isto é, numa saída de Dili, com os campos ditos de Mártires da Pátria. Com os campos santos das valas comuns dos que não cederam à ocupação e que, pelo menos, merecem respeito, sem que emitam os habituais comentários dos que tratam de mortos como uma contabilidade securitária, onde espiões e estrategistas se dizem e desdizem em pretensas ciências certas que nunca acertam, só porque esquecem que a poesia é mais verdadeira do que a história e que os homens não morrem por cabras nem por carneiros, mas pelo invisível laço que forma a tal comunidade das coisas que se amam. Mártires da pátria, campos santos e outros sinais de eterno, impõem, pelo menos, respeito. As pátrias não se medem aos palmos e as pequenas pátrias não são mensuráveis pelas fórmulas de Cline e pelos índices analíticos de certos quadros do PNUD. E as selvas das pequenas pátrias, até podem ser fomentadas pelo jogo securitário dos grandes e médios Estados. 

Prefiro dizer que amanhã vai aqui atracar o DOULOS da Gute Bücher für Alle, um navio de 1914, quase do tempo do Titanic. Pelo menos, conseguirei alguns dos livros que ainda estão por aqui à espera de desalfandegamento e remetidos por mim de Lisboa há cerca de um mês .