Leio o comunicado de Cavaco-Presidente sobre o caso BPN, Dias Loureiro, Oliveira e Costa. Releio muitas notícias. Muitos despachos da Lusa. Até fui à gaveta onde guardo o Manifesto Anti-Dantas de Almada Negreiros. "Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi". Reparo como o julgamento da Casa Pia começa a ter o fim do respectivo princípio. E volta a apetecer citar Almada. Porque Dantas continua a mandar e, ainda por cima, nos mesmos sítios, apesar de ter havido a tal cena, e a tal ceia, a dos cardeais e das barregãs dos clérigos, todos em cuecas, com bolinhas da cor do burro quando foge. PorqueDantas foi monárquico no tempo da monarquia. Republicano no tempo da República. Salazarista no tempo de Salazar. E sempre fez adequados discursos contra os adesivos e os viracasacas...
"Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!" Porque quanto é diferente a pulhítica em Portugal, entre os comentários de solidariedade de Marcelo, face aos presidentes, da sua república e do seu partido, e os comunicados de solidariedade que, de tantos, receberam os detidos, os conteúdos, os continentes, os teúdos e os manteúdos. Porque, se ser de direita é ter que elogiar Dantas, eu prefiro continuar a ser do movimento de Almada Negreiros. "Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco! "
Porque Almada, ao que julgo, nunca foi denunciado como o filósofo da traição. E também nunca foi presidente de um partido, para, depois, fazer estágio como ministro do adversário. Ou talleyrand de um regime para se tornar talleyrand no outro, um quarto de hora antes de eventual novo discurso, sobre o inevitável fim do dito, pela necessária regeneração, que representa o novíssimo. "O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias para cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!" Pelo menos, o Il Principe de Maquiavel, apenas teve tipografia no "post mortem". "O Dantas usa ceroulas de malha!"
Por outras palavras, apenas confirmo como, depois deste monumental falhanço da nossa esquerda governativa, nada melhor, para a dita, do que a procissão manifesta do descalabro moral da direita que convém à esquerda, da direita que a esquerda no poder, à custa do poder, tão beneditinamente, foi construindo, peça a peça, traição a traição, compra a compra, deserto a deserto, para que apenas ficassem pregações, sem microfone, nem tempo de antena. Por isso, subscrevo o protesto de Carlos Abreu Amorim, ponto por ponto.
"Não é preciso disfarçar-se para se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! O Dantas é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair... O Dantas é um soneto dele próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum. Se o Dantas é português eu quero ser espanhol! O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa! O Dantas é a meta da decadência mental! E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas! E ainda há quem lhe estenda a mão! E quem lhe lave a roupa! E quem tenha dó do Dantas! E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões. E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar. Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!"
<< Home