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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.11.08

Dos topasses, que já cá estavam antes dos soldados, dos padres, dos burocratas, dos partidos e dos negociantes reinóis


Muitos antes da chegada dos missionários ou dos governadores, vindos do reino, por estas ilhas se espalhou uma estranha mistura de gente, meio portuguesa, meio local, com nomes esquisitos, ditos Larantuqueiros, por causa do nome do porto da Larantuca, ou portugueses ditos pretos, ou Topasses,  nome este que já terá sido usado em 1545 e que tem a ver com uma palavra malaia referente ao que fala duas línguas

É este o sincretismo genético donde brota este eixo foi dito de Flores, Solor, Timor. É este o sentimento do homem da rua, ainda hoje, aqui por estas bandas que fooram sandalosas e agora são petrolifereiras. Os Topasses chegaram antes dos soldados, dos comerciantes, dos burocratas do governador. E em 1975, quando, sem ainda sabermos bem porquê, os portugueses se ataurizaram, tudo voltou a ser tão topasse quanto no próprio no princípio, quando era apenas o verbo. Eles ficaram aqui em procura do seu lugar onde. E trouxeram do reino outros Topasses, em outras procuras de abraço armilar.

Foi a sensação que tive quando, ontem, finalmente abri as duas caixas de livros que trouxe de Lisboa e que também só ontem foram finalmente desalfandegadas. Onde vieram muitos dos relatórios em forma de livro sobre o que se passou no ano horribilis de 1975 e que, relidos, neste aqui e agora, me deixam confuso sobre as muitas verdades que não são verdade, sobre as muitas mentiras que passaram a verdade, e sobre a estupidez de nos enrodilharmos entre o vazio de a culpa morrer solteira e as estúpidas teorias da conspiração. 

Por mim, prefiro continuar a investigar sobre os Topasses que já aqui estavam antes de chegarem os reinóis e as suas bandeiras, incluindo ideologias e partidos. Pelo menos, esses não mandaram os dominicanos assassinar os jesuítas, como aconteceu nos primeiros tempos da missionação. Nem se passaram para os holandeses. Nem enviaram para cá como governadores da I República um Filomeno da Câmara ou um Teófilo Duarte. Deixaram que, pelo acaso, das  greves da Marinha Grande,  chegassem os Carrascalão e que, por outro acaso procurado, nos anos setenta,  aqui assentasse o padre Felgueiras. E esses, aprendendo com os Topasses, ficaram Topasses, mudando ou não de cor, e assim ascendendo ao altar da metapolítica, naquilo a que se chama confiança. O português que se diluiu no outro, e que cumpriu seu destino armilar é que também se assume como o santo da minha confiança. Força, Manel, nessa luta contra a doença. Timor precisa do teu exemplo! Sempre!