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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

21.11.08

Há medo, nunca vi tanto medo no meu país...



Quando tomo contacto com a anunciada detenção do homem do BPN, e medito no que o treinador Manuel José qualifica como o país dos suspensórios, prefiro olhar noutra dimensão, na que nos foi delineada por  Agostinho da Silva, por Natália Correia ou por Jorge de Sena. Porque há momentos em que outros dizem tudo aquilo que nebulosamente parecíamos alinhavar. Aconteceu-me, há pouco, com Fernando Dacosta, o tal continuador do triângulo de mestres que invoca, quando ele proclama:
Temos um imaginário público que necessita de ser alimentado. Os sonhos que tivemos no passado continuam no futuro. Daí dizer-se que temos saudade do futuro e não do passado. A minha geração foi altamente privilegiada, porque viveu um compacto de experiências que marcaram definitivamente a segunda metade do século XX. Compete-nos agora sensibilizar os mais jovens. De momento, não há regimes em ascensão. Estamos a assistir ao desbravar de uma era que vai fazendo movimentos para olhar o passado. Já os surrealistas diziam que "se queres caminhar para o futuro tens de olhar para o passado".

Porque
sem memória não há ideias, sem ideias não há pensamento, sem pensamento não há criatividade e sem criatividade não há futuro. Agora as pessoas, sobretudo as que nos governam, estão perversamente a apagar a memória e a vender o seu peixe. É por esta razão que os grandes criadores portugueses estão a dar grande importância à memória.

As coisas não se repetem. A Direita endeusou, a Esquerda simbolizou o Deus do bem e do mal, mas o político tem apenas de ser reduzido à sua condição humana. A maior parte dos nossos políticos, jovens, dinâmicos e pós-modernos ainda não repararam que estão todos no século XIX e não no XXI. Enquanto isto, o grosso das pessoas recusa pensar, sonhar e agarra-se à sua existência como se não houvesse vida paralela. Há medo, nunca vi tanto medo no meu país.