a Sobre o tempo que passa: Não costumo calar nem atenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.11.08

Não costumo calar nem atenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las


Acordo, quatro e meia da madrugada, dezanove e tantas lá de Lisboa. Deitei-me bastante cedo, em regime inversamente proporcional ao da maioria da comunidade lusa cá da terra, talvez porque o corpo é que paga e as novas remetidas em envelopes, lá da grande capital do império dos intendentes, inspectores e avaliadores, obrigaram a que acontecesse mais uma dessas reuniões de abstractas comparações de fichas avaliadoras e mais regras de cumprimento de procedimentos e de regulamentos, agora ditas, à maneira da ONU, de "proceedings" e "proceedings", com SMSsssszzz e Mailssszzz, artiguelhos e regulamentecos, onde quem quer comer tem de calar, mesmo que não apeteça comer e mesmo que queira continuar este blogue que, dentro de meia dúzia de "proceedings", se poderá transformar num curioso "case study", como os mais atentos ao que aqui vem sido escrito podem imaginar. Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......

Infelizmente, no auge destas trocas e baldrocas, o excelente sinal de "wireless" que, por aqui, a firma paquistanesa colocou ao serviço da embaixada, no pequeno bairro das traseiras da antiga câmara eclesiástica, incendiada em 1999, em Colmera, apesar de o sinal se excelente, ficou sem ligação à internet e por mais que muitos professores de informática tentassem ir ao suporte e reparar a avaria, nada, apenas nada. A única solução foi ir ao hotel do Monjardino, usar da internet rápida que sempre funciona, mas paga a peso de ouro negro,  e  mandar um SOS para Lisboa, confirmando que sim, senhor, que recebi a papelada, embrulhada em protocolo, e que iria depressa responder, perdendo muitas horas deste meu tempo a interromper as funções docentes e de tutoria. Porque, nestas relações com a capital do império, tudo funciona, embora, quase sempre, o sempre não exista, dado que, se foi extinto o ministério das colónias, as repartições do mesmo espalharam-se por todos os ministérios que restam e tratam os cidadãos que exercem funções de agentes do mesmo como meros agentes da abstracção da ficha avaliadora do PRACE, numa zona onde não há "off shore". Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......

Daí que haja esta pressão de interromper o sono a meio da noite, de ligar o computador e de aproveitar o tempo que devia ser de sono ou de festança, para poder conversar um pouco com as centenas de fiéis leitores que continuam a dialogar comigo, mesmo a dezoito mil quilómetros de distância. Porque esta via que, segundo qualquer manual de procedimentos do carreirismo, constitui um suicídio, porque diz o que pensa ao correr da tecla, pode ser interessante para um futuro especialista em análise de conteúdo que, encadeando, em articulado, uma vintena de excertos de parágrafos, pode concluir que somos infiéis, socialistas, adeptos de Portas, anarquistas, papistas ou o mais que os carregue. Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......

Como, feliz ou infelizmente, transporto comigo a missão de publicista, bem me apetecia que, também qualquer dia, um desses autores de "proceedings" avaliativos se desse ao trabalho de, consultando os meus livros de poesia, e os recompusesse pela datação, tratasse de, num processo judicial, reconstruir as minhas relações de correcção com os poderes conjugais, ou públicos, a que, então, estava sujeito. Claro que, quem, dentro de anos, e à distância, analisar a linguagem destes "proceedings", achará que todas as cartas de amor são ridículas, mas que, ainda mais ridículo, é ninguém ter escrito cartas de amor, mesmo que as cartas não sejam apenas a pessoas individuais e o sejam a instituições que eram comunidade das coisas que se amam e hoje se nos tornam indiferentes porque sufocadas pelos hierarquismo do mandarinato. Eu, ao menos, fartei-me de escrever cartas de amor e poderei também ser dos poucos a ser condenado oficialmente como incorrecto. Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......

Por exemplo, se eu reconstruir todos os discursos de Barroso, da Mizé ou da Ana Gomes, no tempo em que eram MRPP e pedir ao senhor chefe dos contínuos da FDL que conclua pela respectiva incorrecção, quase faria o mesmo dos analistas da vida de um provedor de defuntos no Oriente que, por acaso, se chamou Luís Vaz. Quase a mesma coisa do que colocar nos anos trinta deste século, dois ou três deputados salazarentos a comentarem nos jornais a obra literária de um funcionário da agência de publicidade Hora, ou a de ter que aturar, como suprema responsável pela educação das nossas crianças e dos nossos jovens, a discursata de um tal walter e de um tal lemos que, sem a lábia do José Hermano Saraiva e sem o futuro do Veiga Simão, nos diz que há manipulação numa manif de alunos convocada por SMS e muitos ovinhos, e que também não era ele que o também dizia. Quase bem pior que outros ministros e secretários de estado da antiga senhora, face às movimentações dos marianos gagos de então. Bastava ir aos arquivos da RTP e colocar os secretários de Estado de Marcello, comparando-os com os de agora, face aos mesmos problemas de que também já foram vítimas o Couto dos Santos e os rabiosques ao léu da geração dita rasca. Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......

Mas ao que nenhum mariano, nenhum gago, nehum lemos, nenhuma maria de lurdes, nenhum sócrates, nenhum jorge lacão, nenhum rui pereira,  nenhum alberto costa, nenhum josé magalhães, todos e cada um escapam é ficarão eternamente ligados a causas que serão casos e a cento e vinte mil professores na rua, uma e duas vezes, sem ser por causa do bigode verbeteiro do Mário Nogueira. Porque, no tempo do Simão e dos gorilas, no tempo do Saraiva e dos Adrianos, o tópico de Estado de Direito ainda não estava na Constituição e  o direito português, em termos de direito de defesa à liberdade de expressão, ainda não se tinha universalizado pelas cláusulas gerais do direito da razão, nomeadamente o "case law" do direito comunitário. Por isso é que os higiénicos instrutores, os higiénicos juizes e os higiénicos ministros, lavavam, com legalidade de Pilatos, as enormidades plenárias e ministeriais. Hoje, talvez, não, mesmo que tentem afastar os coelhos da cartola parlamentar ou se esqueçam das relações de Cavaco com Saramago, onde a lixivada justificação apagou os nomes do primeiro e do Santana. Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......

Por mim, tanto faz! O que eu quero saber é se as novas regras dos "proceedings" permitem que eu possa continuar a acumular este meu estilo de escrever público, mas assinado, com a deontologia do ser professor, ou, se para continuar a viver como penso, só ser for deputado, secretário de estado ou ministro, por um lado, e blogueiro de nome oculto do outro, com pidescos métodos de mandar as cadelas morder nas canelas dos incautos. Apenas quero saber as regras do jogo. E se aquilo que é cumprir o meu dever de liberdadeiro pode continuar a ser sancionado pelo Leviathan de sempre e pelos Pina Manique que o mesmo condecora. Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......