a Sobre o tempo que passa: Pátria, Pátria, Timor-Leste, nossa Nação... Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação.

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.11.08

Pátria, Pátria, Timor-Leste, nossa Nação... Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação.


O dia começou com pequeno espaço de aula, logo seguido de participação na cerimónia comemorativa do oitavo aniversário da Universidade Nacional de Timor Lorosae, presidida por Xanana Gusmão que entrou no ginásio, lado a lado com o Reitor, Professor Doutor Benjamim Corte-Real. O ginásio construído pelos indonésios, ainda tem a placa com o nome do célebre General Moerdani, mas hoje, lá dentro, milhares de jovens dão vida à instituição. Bastava a emoção de se assistir ao hino nacional naquele ambiente, entre o formal do corpo diplomático e o peso das baancadas apinhadas de futuro : Pátria, Pátria, Timor-Leste, nossa Nação./ Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação./ Pátria, Pátria, Timor-Leste, nossa Nação./ Glória ao povo e aos heróis da nossa libertação. O autor da letra, Francisco Borja da Costa, morreu no mesmo dia da própria invasão indonésia.

Xanana entrou, hábil na relação com as massas, desejoso de palavra. Cumprimentou os embaixadores. Saudou o representante da Igreja, mas voltou para trás, algumas filas e foi dar uma saudação especial ao senhor Padre Felgueiras. Como não podia deixar de ser, a cerimónia começou com uma oração. Umas dessas líricas de paz e harmonia, com orações em brasileiro, que passou no écran, mas Xanana, desejoso de intervenção, subiu ao palco e ele próprio, com o timbre que lhe conhecemos leu, linha a linha, a oração. Nada a comentar desdenhosamente, Xanana soube ler com força e convicção esse poema, colocando as coisas num ritmo muito especial.

Olhei este palco do novo país que é, sobretudo, um país jovem e que vai viver num mundo que lhe pode ser mais favorável nos próximos tempos, porque quem, sendo um pequeno Estado, está condenado, tanto à cobiça do negocismo como a um conceito de independência que se identifica com a gestão de dependências e a navegação na interdependência. Decidi viver a cerimónia como professor da Universidade Nacional de Timor Lorosae, humildemente, sentindo o que, certamente estavam a sentir os meus alunos. Que a universidade é universitas scientiarum, que é uma instituição, uma ideia de obra ou de empresa, marcada por regras de processo e por manifestações de comunhão em torno das coisas que se amam. Decidi sentir universidade, aqui e agora.