a Sobre o tempo que passa: Em pleno interregno. Entre belenenses e beneditinos, venha o diabo e escolha

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.1.09

Em pleno interregno. Entre belenenses e beneditinos, venha o diabo e escolha

Aqui, nas profundidades do Minho, antes de ir à respectiva universidade cumprir meu dever de cooperação, lá me reclamam um olhar analítico sobre as andanças politiqueiras. E disse que o pequeno palco da nossa velha teatrocracia, vivendo do impulso dos fabricantes do “agenda setting”, tem-se excitado face aos mais recentes episódios que confirmam este ambiente de fim da coabitação entre São Bento e Belém, com anticiclones, capacetes e erupções enxofradas. 

Entre a entrevista do PM à SIC e a de César no DN, até surgiu o paradoxo de  um comunicado formal da instituição belenense desmentindo fontes palacianas sobre a marcação da data das três eleições que se avizinham. Por outras palavras, confirma-se que entrámos em interregno, com Cavaco a procurar garantir impoluída aquela fonte de legitimidade que o pode obrigar a uma intervenção supra-partidocrática no caso de, nas próximas eleições legislativas, não surgir nenhum partido com maioria absoluta.

Depois de ter falhado o bode expiatório dos estatutos dos Açores (basta repararmos no artigo de sábado de F. M. da Costa, antigo homem de Sampaio, desdiabolizando o tópico federalista), os que não acreditam em teorias da conspiração continuam sem vislumbrar a intervenção da mão invisível socrática no caso das autonomias regionais, coisa que a anunciada conversa de Crespo com o seu velho amigo Jardim pode vir confirmar. 

Por mim, prefiro continuar atento às movimentações de luta de ideias dos patentes aliados objectivos de Cavaco, nesse espaço de preparação psicológica do ambiente e que, por enquanto, vai das intervenções de Joaquim de Aguiar às de Medina Carreira. Por isso, bem gostaria de compreender o tipo de recados que poderia surgir de um confronto directo entre M. F. Leite e J. Sócrates, num momento em que o candidato a secretário-geral do PS já conhece os sinais de proibição de eleitoralismo emitidos pelo poder moderador presidencial.