a Sobre o tempo que passa: Neste mostrador das horas minguadas, com muitos espelhos de enganos e poucos teatros da verdade, que venha a gazua geral dos reinos de Portugal!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.2.09

Neste mostrador das horas minguadas, com muitos espelhos de enganos e poucos teatros da verdade, que venha a gazua geral dos reinos de Portugal!


Esfriou a manhã, mas continua a chover em Santiago. Releio a velha Arte de Furtar. Dita de 1652. Ainda sem confirmação de autor, mas um primor da língua portuguesa e da ciência da política, tal como ela devia ser. Pelo estilo e pelo conteúdo. Porque tem de continuar a ler-se no final da primeira década do século XXI. Nela se confrontam os dois principais adversários de qualquer pátria, a Senhora Razão de Estado e a Senhora Dona Política, porque esta tem como principal máxima: o bom para mim e o mau para vós.

Infelizmente, continua a faltar-nos um adequado manual de Teatro das Verdades, um dos subtítulos da Arte de Furtar, porque, utilizando outros subtítulos do mesmo livro, brincamos ao Espelho dos Enganos, temos um Mostrador das Horas Minguadas e ainda não descobrimos a necessária Gazua Geral dos Reinos de Portugal.

Sócrates, como Santana, como Barroso, como Guterres, como Cavaco, como Soares, para falarmos das lideranças da democracia, da integração europeia e da pós-revolução, todos seguiram a mesma cartilha do situacionismo decadentista, todos praticaram o viva quem vence. E vence quem mais pode, e quem mais pode tenha tudo por seu, porque tudo se lhe rende

O Conselho Superior do Ministério Público, enredado e sem gazua, não conseguirá a verdade, entre tantos enganos, nestas horas minguadas, onde tropeçamos em tantas falsas gazuas. Louçã quer acabar com o capitalismo e volta à tabula rasa da ideologia que não produz riqueza ou justiça. Sócrates vai, de missa em missa, proclamar a necessidade do casamento dos homossexuais, da regionalização e do agravamento dos impostos para os ricos. Marcelo Rebelo de Sousa mostrou um cartão amarelo a Manuela Ferreira Leite, com toda a lisura, se, no fim do processo, mostrar que Cristo ainda pode voltar à terra para salvar a laranjada. Jerónimo vai digerindo o sumo saído do Casal Vistoso e está pronto para descer ao operariado e à reconstrução da respectiva consciência de classe. E Portas, danado com os subsídios que não chegaram aos agricultores, prefere assumir-se como o securitário, contra a criminalidade violenta. 

As parangonas do "Freeport" começam a enregelar. E cada nova que sai é interpretada entre o oito e o oitenta. As investigações sobre o BPN continuam enrodilhadas. As do BCP já foram. As do BPP entraram em circulação. Vale-nos que os dragões e os águias empataram e que há uma grande penalidade falseada que iremos debater apaixonadamente. Porque não há factos, mas apenas interpretação de factos, rigorosamente canalizados pelas mesas redondas dos prós e contras, onde só na futebolítica são todos militantes do PSD...