a Sobre o tempo que passa: Notas pé-de-página para um ataque que me honra

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.1.11

Notas pé-de-página para um ataque que me honra

Para devido registo, aqui deixo a honra que me deu um ilustre presidente mais que tudo, num dos seus editoriais emitidos num diário da manhã da região, reproduzido num semanário de Lisboa. Apenas quero acrescentar que este doutor honorário pela defunta Universidade Independente não me insulta quando invoca, da minha biografia de intervenção cívica, a fundação da Nova Democracia. Tenho esse orgulho, particularmente como participante do pequeno colectivo que redigiu, em esperança, os textos fundacionais do grupo, aos quais continuo fiel. Tenho a honra de, em nome do grupo, ter participado na cimeira da Internacional Liberal, realizada em Dakar. Tenho pena de, também em nome do grupo, não conseguir que frutificassem as negociações políticas mantidas com o Partido Socialista. E foi assim, por causa de tais textos, do ser liberal e de o grupo não ter querido colocar-se no espectro político dos restantes liberais europeus, que discordei e saí, antes do II Congresso. Sempre com os mesmos amigos, os que lá ficaram e os que saíram, por acaso, grande parte dos fundadores. Na recente campanha presidencial, foi pública e notória a minha discordância com o estilo e o fundo da candidatura que os resistentes da Madeira lançaram, mas, se fosse apenas por estes resultados de futuro, poderia dizer que não foi em vão esse esforço público fundacional. Como não me arrependo de ter sido candidato a deputado europeu e às legislativas pela semente de partido que apressadamente lançámos contra o sistema. Tenho orgulho de ter sujado as mãos em compromissos cívicos, como aprendi no meu primeiro baptismo político, ao entusiasmar-me e identificar-me com a candidatura da lista CEM em 1969. Ou quando, a partir de 1975, fui assessor político do ministro Magalhães Mota no VI Governo Provisório, mas sem nunca ser do PPD, apesar de ter participado em breves sessões de reflexão, com os meus colegas universitários Fernando Nogueira e José Manuel Durão Barroso. Ou quando me empenhei a partir de Francisco Lucas Pires, como militante e dirigente do CDS, mas apenas até ao regresso de Freitas do Amaral. Foi nesse breve interregno que me iniciei como candidato a deputado por Beja e Braga. Aliás, nesta última aventura, até cheguei a ser deputado, como número dois da lista, por meros quinze dias, e em substituição, coisa que apenas me foi dada a conhecer depois de ela já ter ocorrido, isto é, sem nunca ter efectivamente exercido o cargo, para gáudio do líder parlamentar de então, do chamado partido do táxi. Mas, do meu intervencionismo, também faz parte o ter sido fundador e activista do movimento Portugal Plural, a favor da regionalização, contra a qual Vossa Presidência, tão coerentemente, se insurgiu, para continuar a ridicularizar, em monopólio de verbosidade, esse desígnio. Acresce que também fui fundador de outra frustração de intervenção cívica, o movimento Intervenção Radical. De todas estas heranças de visibilidade, conservo-me monárquico, apesar de não estar filiado em nenhuma associação com esse carimbo, tal como me reafirmo liberal, e até nem disfarço o ser radical. Faço naturalmente parte das bestas do apocalipse que Vossa Presidência, tão doutoralmente, costuma invocar, e até circulam listas fantasmas onde sou um dos nomes a abater, como homem livre. E mais não quero por ora dizer, porque, sofrendo ambos da mesma maleita hospitalar que costuma afectar quem, com o coração, exercita paixões cívicas e combates sem hipocrisia, apenas lhe desejo boas venturas, as que nos poderão continuar a mobilizar em vida (por mim, não são os óculos, são três "bypass" coronários...). Honra-me, Vossa Presidência, quando me distingue como adversário e pode, ou deve, continuar a adjectivar-me com tal boa distinção. Apenas lhe recordo que fomos, os dois, formados pela mesma escola centenária. E que, pelo menos, é de mau senso e péssimo gosto, aproveitar o ramo a que pertenço por sucessivas provas públicas, realizadas no século passado, para atacar a uma dada categoria universitária que nada tem a ver com este seu mísero integrante. A floresta em causa não merecia a adjectivação com que, no natural curso da polémica, posso merecer em duelo,  especialmente porque me desfiliei, há cerca de uma década, da associação sócio-profissional que os pretende corporativizar, apesar de ter sido um dos seus três impulsionadores e consequente fundador.
JAM
*À polémica, não darei guita de jornal. Fico-me por aqui, apenas. Aqueles que eu quero que a registem não precisam de mais. Pelo menos sou sr., como um tal que, quando mudaram as ondas do oportunismo controleiro, logo passou ao que sempre foi.