a Sobre o tempo que passa: Movimentos. Por Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.3.11

Movimentos. Por Teresa Vieira

É curioso que existem aí uma série de movimentos paralelos que correspondem à mesma pergunta e à mesma insatisfação.

Estes movimentos assumem formas de actuar diferentes e têm uma expressão eleitoral nos votos, se atentarmos em todas as formas de exercício de expressão desses mesmos votos, incluindo a abstenção.

Ora estes movimentos colocam-nos a questão de indagarmos se os mesmos devem funcionar paralelamente como uma linha alternativa, que, afinal, até pode não entrar no jogo eleitoral.

Parece-nos que estes movimentos até se desejam actuantes de algum modo fora do processo eleitoral para que possam intervir de modo mais objectivo sejam quais forem os governantes.

Talvez que estes movimentos, simplesmente ofereçam locais mentais, onde pessoas se podem encontrar e desse modo se não entendem prosélitos.

Enfim, não se tratam de locais com secretárias e mesas para as pessoas se sentarem, mas têm endereço electrónico e virtual ou não número de polícia para onde se pode escrever ou estabelecer contacto.

Há coisas difusas, um pouco por toda a parte, mas que constituem pontos de convergência inequívocos de sentimentos fortes e sobretudo de consciencialização de atitudes profundas.

Caberá questionar se se pode entender se é por esse caminho que se pensam e resolvem muitos dos problemas dos homens neste mundo.

Ora nós não definimos caminhos. «Se hace camino al andar». Insistimos sim, que para se inverter a maneira de olharmos determinadas situações, há que definir e estarmos atentos às atitudes, sobretudo as que carregam a leveza dura da criatividade na crítica e nas alternativas que propõem.

Acreditamos que a criatividade interpretativa não é gregária, mas de indivíduos, indivíduos com uma certa esperança na construção de uma real utopia.

Acreditamos que existe todo um mundo de pensamento ecológico que não constituindo um ecotipo, actua demarcado do grande conjunto da sociedade e que rouba – nas palavras de muitos – votos à esquerda e à direita, o que só por si demonstra o grau transversal de mal-estar.


São movimentos que se não aconchegam ao estabelecido. São movimentos, afinal não extenuados da luta.

Não se trata a nosso ver de dizer que revelam um pensamento doutrinário mas sim que são expoentes de uma reacção ao que existe e tal como existe.

Sugerimos que se possa pensar o quanto nestes movimentos se denuncia que o homem não pode usar a sua própria vida como uma troca.

Talvez começarmos por aqui: por este óbvio indisciplinado.

M. Teresa B. Vieira
10.03.11
Sec. XXI