a Sobre o tempo que passa: <span style="font-family:georgia;color:red;">Cabala, Conluio, Conspiração</span>

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.10.04

Cabala, Conluio, Conspiração



Cabala. O mesmo que ciência oculta. A interpretação iniciática da Bíblia. Daí que a expressão seja utilizada para qualificar qualquer conluio ou intriga secreta visando desestabilizar a ordem estabelecida. Foi no caso da Pia Casa, votou agora com as pedralhadas e as marceladas.


De facto, as ideias e símbolos de antigas teocracias e sociedades secretas, e a gnose mística dos rosas-cruzes, do cabalismo e da maçonaria foram integradas na ... audição na Alta Autoridade para a Comunicação Social do Ministro Gomes da Silva que sugere cabala do "Expresso", PÚBLICO e Marcelo Rebelo de Sousa. Mas ministro nega ter feito tal sugestão PS e BE desafiam Gomes da Silva a provar existência de cabala..




Será conveniente recordar que para os egípcios, hindus, cabalismo e astrologismo, o fim do mundo situa-se a meados do século XXI. Contudo, para nós, quanto mais cabalas, conluios e conspirações surgirem, mais a situação desvia a atenção para o Estado-Espectáculo. Porque obedece à teoria do quanto mais me bates, mais gosto de ti.

Conluio. Do lat. colludiu. Maquinação ou combinação entre duas ou mais pessoas, para prejudicar outrem. Em sentido amplo, o mesmo que conjuração e que conspiração. Eu conluo, tu conlutas, ele colide. Quanto mais me tornam inimigo, mais eu terei o apoio do PSD..

Conspiração. Conluio de dois ou mais indivíduos contra as autoridades políticas estabelecidas. Ainda não chegámos a tanto. Os partidos da oposição podem fazê-lo à vista desarmada e até conversar com o Presidente sobre a matéria.. A democracia permite mudanças políticas sem efusão de sangue, à excepção da restauração da monarquia.

Conspiração, Teoria da. A ideia de que muitos importantes acontecimentos politicos económicos e sociais resultam de conspirações e maquinações desconhecidas do grande público. Por isso florescecem serviços de informação, centrais de comunicação governamental, muitas Razões e Segredos de Estado e, sobretudo, de alcova, botequim e fado, naquilo que muitos qualificam como os traseiros do poder.


E neste ambiente decadentista, o público começa a considerar que as autoridades políticas actuam em segredo e desconfia-se sempre das versões oficiais. A tal esfera pública, essse espaço que vai além do doméstico, em vez de política começa a discutir questiúnculas de fontanário e campanário, em pátios que já não são os das cantigas.

Image Hosted by ImageShack.us

Quando se dá um magnícidio, a teoria floresce. Em Portugal, ainda hoje não se conhecem os exactos meandros do regicídio de D. Carlos I, em 1908, do assassinato de Sidónio Pais, em 1918 ou da Noite Sangrenta de 1922, quando mataram o chefe do governo António Granjo, bem como o fundador da República Machado Santos. Se para uns tais acontecimentos resultaram das actividades da maçonaria, já para outros, na base do processo estiveram congregações religiosas..

Da mesma forma continuam misteriosas as motivações do assassinato de Humbero Delgado em 1965 ou a morte de Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa em 1980, onde a versão do acidente tem sido confrontada com a do atentado. Nos crimes de 1908, 1918, 1922 e 1965 se foi possível detectar o autor material, jamais foi detectado o autor moral e nem sequer está excluída a hipótese dos executantes terem actuado em regime de autogestão, não cumprindo ordens das entidades superiores que os acicataram ou aramaram. Daí que, entre nós, seja inevitável a suspeição face aos posteriores investigadores estaduais de tais eventos.

Aqui e agora, a República está definitivamente uma dicta blanda... E Pedro Santana Lopes sabe que só havendo anormais ele poderá ser normal, isto é, quanto mais o ameaçarem com dissoluções, cabalas, conluios, conspirações, movimentações oposicionistas dentro do PSD, conflitos com o PP e conversas da Cinha e do Castelo Branco, mais ele deixará de ter que se preocupar com a chatice de governar. Porque se houver estabilidade e governação, governança, governadorice ou normalidade, menos poderá haver aquilo que é essencial na politiqueirice: a gestão de crises e o controlo da barganha, a imagem, a sondagem e a sacanagem, de que falava Manuel Alegre.