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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.12.04

Como pôr o sistema educativo a dar luz? Fazendo-o arder?



Tive hoje um almoço prospectivo com um "mais velho", hoje retirado das andanças políticas, mas antigo governante de Portugal e ex-alto dirigente de um dos maiores partidos portugueses. E deixou-me esta lição: a nossa pátria só tem razão para continuar independente se conseguir animar o factor população, mas mantendo-se o presente de sistema de ensino, gerado pela ilusão das permanentes reformas de Veiga Simão, caminhamos para o desaparecimento. Concordei.



E recordei uma recente transmissão televisiva sobre a abertura de um colégio de ensino de russos e ucranianos em Lisboa, onde jovens alunos do Leste, que também frequentam o ensino público português, quando entrevistados, confirmaram serem dos melhores alunos das respectivas turmas lusitanas: "aqui é muito fácil o ensino da matemática, somos dos melhores a português e não há muitos trabalhos para fazermos".



Não haverá por aí alguém com o mínimo de bom-senso que liberte os decisores da nossa educacionalogia dessas teias de aranha que há mais de trinta anos nos andam a reformar e a afundar? Será que volta a ter razão Guerra Junqueiro quando, referindo-se à universidade do seu tempo, dizia que ele só faria luz quando ardesse? Temo que o Partido Socialista volte a cair na tentação destes especialistas na mistificação e que nos volte a empanturrar em tecnocratices sem alma... Até já vi um neto mental de Veiga Simão sentado na mesa principal do megajantar de Sócrates, só porque não chegou a ministro da educação do seu amigo e camarada Barroso...


Maré Alta em Vira, vira, vira homem / vira, vira, comentando o que acima escrevi, observa: De resto, esta repetição de descobertas súbitas das Estradas de Damasco, em que Saulos se transformam em Paulos e, agora, Paulos em outras graças, está a motivar a redescoberta dos clássicos portugueses. Óptima consequência. Guerra Junqueiro está cada vez mais em alta. Ainda bem.