Entre a União Nacional e a laranja amarga
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Não me apetecendo qualificar a preferência maquiavélica do PPM e do MPT pela sobrevivência politiqueira, apenas noto o pacto leonino dos sociais-democratas que assim obtêm uma saudável inspiração programática e um adequado uso de novos porta-bandeiras, os quais vêm, naturalmente, colorir um cenário que estava cada vez mais embaciado pelos palanques discursivos do "one man show", enquadrados por orfeons de jovens com o tristonho ar das vaquinhas e dos bezerrinhos de um plastificado presépio. E assim poderemos chegar a um profícuo tempo de antena, entendido como injecção direcccionada pelo falso elixir da juventude eterna.
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Todos percebemos, sem grande necessidade de um mestrado em ciência política, como o objecto da mesma política se transformou numa grande barganha onde o que parece afinal não é, só porque somos dominados por aquelas burguesas e decadentes criaturas que leram, em manuais sebentos, a falsa ideia segundo a qual em política só existe aquilo que se comunica.
Com efeito, os partidos da coligação ameaçam transformar-se em grandes revistas de um "jet set" bem colorido, com espampanantes novos-ricos ponteados por escritores e cantores de ritmo pimba, com muitas tias cheias de jóias falsas, alguns artistas amestrados e subsidiados, certos futebolistas falidos, ecologistas feitos especialistas em silvicultura de segunda habitação e muitos aristocretinos com pomposos nomes e genealógicas condecorações, obtidas no tráfico de influências da diplomacia do croquete.
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Não tarda que desenterrem encenações de cavaleiros de tristes figuras a serem armados honorários escudeiros de uma qualquer academia do peixe espada preto, onde assumirão a liderança certos dirigentes da futebolítica, condecorados com a medalha do termo de identidade e residência. Esse desfile de um castiço lusitano onde começa a dominar o vale-tudo da demagogia de certo caceteirismo intelectual, com muitas meias brancas suburbanas e outras tantas malas pretas, tudo em ritmo de ópera bufa, com fantoches em figura humana, geridos pelos invisíveis cordelinhos das inumeráveis cunhas de fidalgotes falidos, onde limpíssimos colarinhos brancos vão lavando as mãos, face à constelação de pequenos jagunços que instrumentalizam. Esses caixeiros viajantes de uma caravana de comediantes, feitos militantes de cartão plastificado, donos de uma qualquer senha que lhes dá colocação dos familiares, prestígio no café do bairro, citação no boletim paroquial e eventual direito a nome de rua num desses subúrbios de cimento, lata e droga. Seu palerma, chapéus há muito. O meu tem três bicos.
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