Não é só por haver doentes no mundo que a saúde deixa de ser um bem
Nesta natalícia época em que começamos todos pelo fim incinerativo, o jogo da pré-campanha ameaça o habitual jogo rotativo do "mais do mesmo", com a velha direita a disputar o centro do terreno à velha esquerda, quando parecem estar em causa valores mais altos, nomeadamente aquilo que deve constituir o fundamento de qualquer comunidade política, isto é, a sede de justiça e a consequente procura da igualdade. Por isso é que os homens comuns se fecham dentro de seus lares e cada um guarda para dentro de si mesmo a amargura da cidadania.
Com efeito, os malabarismos politiqueiros levam a que os situacionistas passem a vestir-se de oposicionistas, assumindo o martírio de novos S. Sebastião, com muitas cicatrizes nas costas, enquanto os oposicionistas já fingem que são ministros, esquecendo-se que, há muito, deixaram de o ser. Uns e outros continuam a julgar que assinaram uma espécie de coexistência semi-pacífica em torno do bloco central de interesses e, utilizando alguns peões de brega, preferem fazer guerras por procuração.
Não se estranhe que Pedro use o Paulo para caçar no terreno da oposição que não é de esquerda e que o José encene uma sessão de "flirt" com os activistas do Bloco, para darem um ar "pós-moderno" à esquerda. No fim do jogo, podemos estar condenados a ter que usar os habituais pratos pré-cozinhados, para gáudio dos que, partindo e repartindo subsídios e financiamentos, tanto não são burros como também percebem da arte. Por mim, prefiro continuar o projecto por cumprir que me dá sede de igualdade e sede de justiça. Não é só por haver doentes no mundo que a saúde deixa de ser um bem.
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