A genealogia da nossa extrema-esquerda II
A minha pobre turma do primeiro ano jurídico está politicamente desempregada, desde que o Fernando Nogueira largou a liderança partidária e optou, corajosa e clarificadoramente, por um emprego por conta de outrém na banca. Dos outros bancários e banqueiros da turma só conheço os antigos militantes da extrema-esquerda que não foram para o Ministério Público. Os activistas da direita passaram-se, quase todos, para investimentos e participações de gastronomia, venda de madeiras em segunda mão e hotelaria, ficando um pequeno resto pelo cangalheirismo de certa partidocracia de sucesso. Andam agora à procura de emprego estável, através dessa falsificação dos anúncios de emprego que falam em concursos públicos, mas onde, por trás de categorias abstractas, estão fotografias de tristes e depenadas figuras do cinzentismo que precisam de gancho que os segure da incompetência que manifestam. Eu, como fui saneado por uns (antes de 1974) e por outros (depois de 1974), continuo a não usar gravata e a deter barbas pré-revolucionárias, chegando, há muito, à conclusão que nunca tive, nem terei, razão no tempo certo, de acordo com o critério da janela de oportunidade que distingue os políticos de sucesso.
Há, contudo, alguns ex-esquerdistas revolucionários que, usando agora gravata, passaram a blogueiros anónimos e de muito sucesso, porque beneficiam da informação pública que recolhem do alto dos vencimentos que o zé povinho lhes paga (ver O Relatório das Sevícias e a Legalidade Democrática, Coimbra, Centelha, 1977, bem como o próprio relatório em causa, onde a lista dos "seviciadores" é bem explícita). E quando leio as ditas linhas feitas de muita verbosidade moralista, reparo como nem sequer têm a coragem de as assinar, ao melhor estilo dos inquisidores, dos formigas brancas e dos pides. Utilizando a insinuação e a técnica dos editoriais dos defuntos "Diário da Manhã", continuam a engordar pelos interstícios dos que fazem política com a coragem de viverem como pensam, sem pensarem como amanhã irão viver. Um deles, nazi hitleriano no primeiro ano, bombástico aderente da extrema-esquerda no quinto e actual militante da direita social-democrata, ou socilaista democrática, continua a enganar papalvos com verbosidades da moda.
Porque se perderam o messianismo dos amanhãs que cantam, ficaram-lhe os atavismos do sargento verbeteiro, do coronel da Comissão de Censura, do serventuário de célula ou do esbirro do Copcon. E esse colectivismo cobarde continua a ser o mesmo que os fez lavar as mãos como Pilatos quando o espaço maior onde eram militantes cometeu efectivos assassinatos de sangue. É por isso que eu não quero ser ilustre irmão, primo ou camarada de certa canalha que continua a dizer que a blogosfera são aqueles que fazem parte do respectivo sindicato das citações mútuas.
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