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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.12.04

Os donos do poder... Onde é que fica o exílio?



Abrimos os jornais e lemos: um bisneto de António de Oliveira refuta derrapagem nas contas e responsabiliza herança do tio que não terá seguido as regras dos bons costumes. Porque, com este dono do microfone, mais uma varinha de condão deverá saltar do sapatinho de Natal: amanhã será anunciada nova solução para conter o défice. Dizem que uma operação contabilística no sector das batatas estará na mira do executivo. Um ministro a preto e branco mostra jornal inglês para garantir que as nossas finanças estão melhores do que as da Alemanha. Um ministro a cores, mostra jornal da Guiné-Bissau e demonstra como as nossas contas são mais irrepreensíveis do que as do Burkina-Fasso. Barradas Oliveira e João Coito tinham mais jeito.

E mais lemos: a oposição está indignada com a revista publicitária paga com dinheiros públicos que sai esta quarta-feira nos jornais a explicar o Orçamento de Estado. O PS diz que é uma «vergonha» e o BE considera um «escândalo». Morais Sarmento afirma que não há motivo para polémica e que a quantia gasta foi irrisória, dados os descontos conseguidos. O presidente do conselho até diz que o povo paga a coisa sem dor. Afinal esse tal suplemento a cores com 24 páginas de papel suave foi pago como publicidade pela câmara municipal da Hispania Occidentalis. Segundo o "Portugal Diário", tal encarte custou cem mil euros, mas «não é um gasto, é um investimento», justificou Sarmento. E Bagão fala em custo «moderado» e quantia «irrisória» e defende que Orçamento deve ser explicado à população, até porque poupou muito mais em despesas do respectivo gabinete. Também sugeriu aos clubes de futebol que deixem de comprar jogadores para regularizarem as dívidas ao Fisco.



E continuamos a ler: "a Omni faz parte do universo do Banco Português de Negócios (BPN), ao qual o ministro da Administração Interna, Daniel Sanches, esteve ligado como administrador de várias empresas antes de entrar para o Governo de Santana Lopes. E o BPN, por sua vez, está integrado na holding Sociedade Lusa de Negócios (SLN), à qual está ligado o deputado e dirigente do PSD Manuel Dias Loureiro". E continuamos a ler que Paulo Portas vai tirando do sapatinho muitos novos brinquedos para os nossos soldadinhos. E continuaremos a ler que em Portugal o importante não é ser ministro, é tê-lo sido. E continuaremos a ler novos aderentes à proposta de Sócrates, vindos do grande bloco central de empregos. E não faremos mais comentários, porque continuaremos a ter que votar neste PSD e neste PP e a ter que seguir os relatos do prolongamento do jogo do Casa Pia contra a Universidade Moderna. Vale-nos que seremos todos co-incinerados. Eu prefiro Souselas à Arrábida. Onde é que fica o exílio para quem nunca teve a dita de ter sido de extrema-esquerda e não quer seguir a alternativa da Cinha de White Castel?



Bem gostava que fosse ficção: O Tribunal de Contas admitiu hoje que o valor do défice público de 2003, que se cifrou em 2,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), pode ser falso.No parecer sobre a Conta Geral do Estado do ano passado, o Tribunal de Contas defende que a informação disponibilizada pelo Executivo "não apresenta, de forma fidedigna, a situação financeira resultante das operações realizadas no decurso do ano".Por isso, "o tribunal mantém as reservas que tem vindo a colocar relativamente aos valores globais da receita e despesas da Conta Geral do Estado e, consequentemente, ao valor do défice orçamental ali apresentado".