O nosso laço de pertença à esperança. De M. Teresa Bracinha Vieira
À nossa memória de mundo sempre esteve ligada a reconquista das coisas-cerne que ao Homem trazem a possibilidade de um futuro que no amanhã, logo pela manhã, nos acalente a exígua hipótese que seja, de um renascer da esperança.
Há que dar uma importância fundamental ao desejo ou à vontade de acreditar na raiz primordial de uma legítima e ardente expectativa, na luta dos olhos por um mundo melhor.
Há que dar a nós próprios o direito de nos extasiarmos pela paisagem que um cume de montanha nos pode oferecer, sobretudo se formos capazes de imaginar, o que seria de nós se tivéssemos ficado no antes, na doença do não ir.
Quero crer que se a consciência de cada um apelar, ao impulso vital, que ainda assim se debate em nós, tentando superar o desencontro que dilacera o distanciamento humano do empenho de viver com a auto-promessa de cada um à vida, vida que cada ser tem por irrepetível, então, consolidada estará a luta pelo nosso inequívoco laço de pertença à esperança.
Os conceitos de sociedade, comunidade, povo, nação, são frequentemente utilizados por quem exerce um certo tipo de poder e, por isso, podem tornar-se excessivamente conotados com realidades aprisionadas, às quais se não afeiçoa a esperança, pelo menos sentida com o dinamismo oposto de quem não quer aguardar esmolas de probabilidades.
A relevância política da ideia contida no esperançar, mormente por parte de quem, pelo seu próprio projecto, intenta uma análise serena da realidade existente e a faz veicular consistentemente ao espaço interior de cada um, assume a influência diferenciada e decisiva à coesão, tão necessária nos dias de hoje, para que os Homens lutem pelo legítimo poder de acreditar nos objectivos centrais que clamam pela sua própria identidade, opondo-se à sistemática postura do acto de tudo permitir, inclusive a própria violência que lhes rouba a cor dos dias.
Não é possível que continuemos a consentir que as rugas da alma se devam ao forjar alheio e vertido na vida de cada um de nós e à operacionalidade que dele se pode fazer, utilizando a fragilidade que os Homens enfrentam no face-a-face de tudo o que os torna infelizes.
A dignidade de cada Ser assenta também neste sentimento, pleno de afectos, que é a pertença conducente à espontânea participação dos homens no imperativo de enfim se prometerem à vida.
Se é certo que os Homens também são urdidos pelos seus hábitos, pois que deixem de tolerar digestões tão lentas àqueles que lhas impõem com a regularidade nefasta que tanto, mas tanto os faz encolher, mirrar até ao desalento e à síncope de uma justa aspiração.
Eu tenho saudade da esperança.
Eu tenho saudade da liberdade de ter esperança!
Sejamos capazes de superar as dificuldades das difíceis provas a que alguns mundos nos submetem. São estas que nos dão o sentido do valor e se sustentam no mérito com que cada um as conquista.
O nosso laço de pertença à esperança, reside na força com que somos capazes de o defender e pelo que por ele se constrói e nos une.
O nosso laço de pertença à dinâmica da esperança é movido por um ideal. O ideal de quem ainda é, muito justamente sôfrego, pelo reanimar da sua vida e das vidas que o rodeiam.
E o mundo está disposto a dar-nos esta oportunidade entusiástica, se a nossa robustez de vontade for férrea, por consistir numa profunda necessidade de mudança; por residir na consciência de problemas de interesse geral que têm a ver com o destino e o futuro comum da humanidade.
Porque também a esperança nunca se atraiçoa, assim se saiba como se projecta um futuro; assim se envolvam laços de sangue e de lugar, de substracto humano e de participação numa ideia forte exercida a partir da raiz de cada um de nós.
Este o nosso laço de pertença à esperança! Tão perturbadora quanto legítima.
M. Teresa Bracinha Vieira
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