Não basta um minuto de silêncio. De M. Teresa Bracinha Vieira
A morte vestiu o corpo de sete países da Ásia devastados por este terrível terramoto.
Recusam-se os homens a imaginar o quanto tudo é fragilidade.
Não sei quem foi o primeiro Ser a esquecer que os dias desta vida podem ter perfume sim, mas de repente o perfume logo voa, às vezes, muito antes que se assuma a lembrança da essência.
E vem o desespero da impotência face ao tremendo sofrimento que se vive, que se viveu e que se viverá por muitos anos, no pesadelo das ausências definitivas dos entes queridos.
Que ninguém tire as sandálias dos pés, aquelas que levam à solidariedade que nos sustentarão a alma se, dos que sofrem, não nos esquecermos.
Que quem preste o consolo ao seu semelhante, saiba que não partirá desta vida sem nada.
Que se saiba também que, acima de tudo, nos respeitaremos mais pelo que podemos fazer nas circunstâncias das calamitosas desgraças.
Como dizer-vos que não basta um minuto de silêncio?
Nas grandes e nas pequenas tragédias individuais do Ser humano, há que destruir o muro que nos separa da sua compreensão.
Por aí o caminho em que pensar nos outros não é um acto que revele obrigação ou coragem: é tão só dar a mão, de modo interminável.
Do único modo em que ela se honrará de ser a nossa mão.
Do único modo em que sem notícia alguma acerca do tormento humano neste mundo, saibamos sempre da existência de muitos esquecidos guerreiros que, em solidão absoluta, fincam os dedos na terra e num abrir de lábios de pavor aguardam a nossa palavra e o nosso gesto, quantas vezes suspenso?
Não, não basta um minuto de silêncio.
Nunca bastou.
Nunca bastará!
M. Teresa Bracinha Vieira
27 de Dezembro de 2004
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