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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.12.04

Quando formos quem sempre fomos



Quando sozinhos, clandestinos, num qualquer recanto, apenas nosso. Quando formos
quem sempre fomos, de corpos dados, os dois em flor, namorados, de amor, rememorados.

Nesta espera, feita futuro, o prometido presente que regressa, no ânimo de corpos que não esquecem. Nem que seja uma só hora, um só momento, no espaço necessário de um acaso.

Nesse tempo que tem de ser, quando o tempo que tivermos for, de novo, nosso tempo.

Quando, serena, a paisagem nos der passagem e as palavras recobrarem a força das nascentes, águas vivas, olhos marinhos, sítios de areia fina. Quando voltar a esperança das coisas prometidas e as mãos disserem as palavras reprimidas.




(poema que apetece republicar, para ti... mas apetecia mais reler, vivendo, o José Régio desse "davam longos passeios aos domingos"...)