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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.12.04

SOS! Há por aí algum democrata que possa divulgar isto!



Sei que não é politicamente correcto dar guarida a apelos desesperados de derrotados políticos, mas não posso deixar de transcrever um telegrama recebido de um partido oposicionista que ainda não teve uma palavra de apoio de José Manuel Barroso. Transcrevo o que acabei de receber:
...

Os camaradas deram grande chapelada e preparam-se para continuar.
Envio-lhe em anexo uma lista de acusações que estes lhes fazem. Eles têm
provas do que dizem e estão a preparar um documento com base jurídica para
entregarem à CNE e aos observadores internacionais, principalmente à UE que é
quem paga esta fantochada toda!
.....

1. Assembleias de Voto que não abriram durante os dois dias de eleições impedindo de votar um expressivo número de eleitores nas zonas rurais do centro e norte do país;

2. Assembleias de Voto que só abriram no segundo dia de votação a cerca de 3 horas da hora marcada para o encerramento, impedindo de votar um expressivo número de eleitores nas zonas rurais do centro e norte do país;

3. Delegados de candidatura do partido da oposição e seu candidato presidencial impedidos de acompanharem a votação e fiscalizarem a contagem;

4. Anulação de votos no candidato presidencial da oposição. Grande parte do eleitorado é analfabeto razão pela qual vota através da impressão digital. Foram identificados vários fiscais eleitorais do partido no poder com tinta igual à utilizada para votar, de maneira a anularem os votos no candidato da oposição através da colocação de uma segunda marca nos boletins de voto;

Ex. Num dos distritos foram encontrados vários sacos com cerca de 32.000 votos anulados ao candidato da oposição;

5. Cadernos eleitorais rodados para diferentes assembleias de voto, de maneira a que os eleitores não encontrassem o seu nome no local onde se recensearam, ficando assim impedidos de votar. (Abstenção Planificada);

6. Cartões de eleitores sem número. Nas áreas rurais onde a oposição detém larga maioria de intenções muitos eleitores, quando se foram recensear receberam cartões sem número. Como são iletrados não se aperceberam do facto e quando pretenderam votar foram impedidos com base no argumento dos cartões de eleitor serem ilegais;

7. Vice- Directores do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) indicados pela oposição (o STAE tem um director e um vice-director indicados pela situação e um vice-director indicado pela oposição) impedidos de entrarem nas salas de informatização dos resultados. Isto está a acontecer em todas as capitais províncias. Em dois casos foram presos sem qualquer justificação.

8. Intimidação policial levada a cabo junto das populações que normalmente votam na Renamo nas áreas rurais do centro e norte. Numa das províncias os eleitores forma acompanhados pela polícia armada até à cabina de votação, tendo as autoridades exigido presenciar o acto de votação.

9. Cidadãos residentes no exterior votam nas eleições presidenciais, contrariando a lei eleitoral.

10. O governo do país vizinho proibiu a oposição moçambicana de fazer campanha eleitoral naquele país. O país em causa integrou um dos círculos eleitorais;

11. Campanha de manipulação da informação por parte dos órgãos de comunicação estatais, de maneira a criar o ambiente propício para a manipulação dos votos favorecendo a situação e o seu candidato.




O que acabei de transcrever não se passa na Ucrânia. Acontece no segundo maior Estado da CPLP, em termos populacionais. A má-consciência da ex-metrópole colonizadora leva a que as direitas e as esquerdas calem estas violações dos princípios mínimos do Estado de Direito, até porque, internamente, já lemos, vimos e ouvimos que alguns dos nossos mais destacados fazedores de homílias verbosamente democráticas já canonizaram o partido dos camaradas reciclados que está no poder nessa terra. Também não consta que os membros da coligação de direita que domina a Europa abram a boca sobre a matéria, porque os banqueiros e investidores dizem para não mexer no pacto estabelecido com os reciclados no poder que, por acaso, são pintados de pluralistas pela Internacional Socialista, enquanto se deixa cair que os oposicionistas não passam de bandidos armados. Eu prefiro tomar partido e não calar, correndo o risco de nunca mais ser convidado pelas entidades oficiais de Moçambique para aí conferenciar, pescar ou fazer caçadas em safaris.

Qualquer jornalista que der guarida a este alarme pode considerar-se um verdadeiro inimigo do esforço para a construção da democracia em África. Qualquer professor que civicamente se empenhar em lutar contra o silêncio hipócrita deixará de ser citado em discursos de autarca ou ministro em terra da boa gente. Qualquer capitalista ou investidor que levante o dedo entrará na lista dos inconvenientes e não mais terá facilidades. O povo que se lixe. Comam e calem, por favor!