a Sobre o tempo que passa: Os endireitas da nova União dos Interesses Económicos

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.4.05

Os endireitas da nova União dos Interesses Económicos



O Zé Mateus, no seu Claro, decidiu observar, e bem, o que a seguir transcrevo: o Fórum para a Competitividade decidiu editar uma revista. Tudo bem... A revista é apresentada como uma revista de direita. E aqui começa a confusão de géneros. A revista identifica-se com o Atlântico. E aqui a confusão torna-se mais elaborada e até dramática.

No início da confusão está o facto de não existir nenhuma relação entre os conceitos de "competitividade" e "direita", nem sequer qualquer indício prático de tal possibilidade. Se existisse algo de semelhante, Portugal era necessariamente o campeão da competitividade pois nenhum outro Estado da Europa foi nos últimos três séculos tão governado (e de que formas...!) pela direita como Portugal! É mesmo de desconfiar que haja alguma relação entre a ausência de produtividade, a cultura caceteiro-miguelista, a economia salazarento-corporativa e outras delikatessen bentas da direita... De resto, podemos suspeitar que os grandes responsáveis pelos aumentos de competitividade nos países europeus não eram bem de direita... O espanhol Felipe Gonzalez, o francês Jacques Delors, o alemão W. Brandt e outros Olof Palm escandinavos não jogavam nessa equipa e nem por isso deixam de ser os protagonistas do grande desenvolvimento económico (competitividade, incluída) dos seus países no século XX...
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Se a amálgama direita/atlântico tem de ser rejeitada, outra amálgama é também inaceitável: se alguém no Forum da Competitividade pretende misturar direita e competitividade, há que explicar que esse é o caminho para o... retrocesso! E se aquelas caras que aparecem no site do F. da C. (e que não são conhecidos por serem empresários competitivos nem virados para o mercado global) não perceberam isso, então peçam humildemente, por exemplo, ao senhor engenheiro Belmiro de Azevedo que lhes explique isso numa tarde de sábado...

Saneei, evidentemente o segundo parágrafo que, para os devidos efeitos, aqui corrijo (em não itálico), para poder concordar com tudo:

No início da confusão está o facto de não existir nenhuma relação entre os conceitos de "competitividade" e "desta direita", nem sequer qualquer indício prático de tal possibilidade. Se existisse algo de semelhante, Portugal era necessariamente o campeão da competitividade pois nenhum outro Estado da Europa foi nos últimos três séculos tão governado (e de que formas...!) por esta direita como Portugal! É mesmo de desconfiar que haja alguma relação entre a ausência de produtividade, a cultura caceteiro-miguelista, a economia salazarento-corporativa e outras delikatessen bentas desta direita... De resto, podemos suspeitar que os grandes responsáveis pelos aumentos de competitividade nos países europeus não eram bem de direita... O espanhol Felipe Gonzalez, o francês Jacques Delors, o alemão W. Brandt e outros Olof Palm escandinavos não jogavam nessa equipa e nem por isso deixam de ser os protagonistas do grande desenvolvimento económico (competitividade, incluída) dos seus países no século XX...

É que, apesar de tudo, continuo de direita, porque não subscrevo o rigorosamente ao centro do freitismo nem o programa da União dos Interesses Económicos deste "forum" que agora nos enjoa, de tantos atlânticos porteiros e transatlânticos porta-aviões e submarinos, com que se vai dando a "afundação" da direita. Julgo que estes representantes do nome português do capitalismo apenas podem reivindicar o monopólio da emissão dos certificados lusitanos do liberal e do direitista para quem lhes pediu emprego, subsídio ou financiamento, coisas a que sempre estive imune. Tenho a perigosa mentalidade do "funcionário público" que nunca foi "consultor" dos ditos nas acumulações e avenças das horas vagas...