Que venha um papa de língua portuguesa!
Não alinho nalguns protestos que certos amigos emitiram sobre a utilização de um "Falcon" da nossa Força Aérea por D. José Policarpo, para que este se pudesse deslocar a Roma, como cardeal, para os funerais papais e o conclave. Se negássemos ao Estado português essa pertença comunitária de sermos tradicional e maioritariamente católicos, não estávamos a cumprir o essencial do princípio da igualdade, que nos obriga a tratarmos desigualmente o desigual. Como não católico, considero que, se reduzíssemos tal religião a um abstracto e estatístico culto, sem lhe darmos os privilégios a que tem direito e que a maioria sociológica da nação reclama, estávamos a não praticar a justiça.
Acresce que quando certa opinião crítica faz ascender D. José Policarpo à categoria de "papabile", eu, como português e, ainda por cima, como crítico público de certas intervenções do cardeal, sinto um sincero orgulho e tenho o dever compatriótico de lhe dar toda a minha solidariedade de contemporâneo e conterrâneo. Sua eminência, como homem e como eclesiástico e, sobretudo, como símbolo da Igreja católica portuguesa, tem o direito de criticar e de ser criticado. Mas quem o critica tem também o dever de lhe reconhecer a dimensão de homem de superior inteligência. É o que aqui faço, com aquilo que penso ser a virtude da justiça e sem essa falta de modéstia dos que poderiam qualificar tal atitude como tolerância. Quem me dera poder dizer "Viva um papa de língua portuguesa!... Nem que seja brasileiro...".
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