Algumas regras do jogo. Recebido de M. Teresa Bracinha Vieira
“ O ser vivo pertence a um partido extremamente conservador: os mesmos constituintes fundamentais, o mesmo código genético desde a origem da vida. Mas partindo da extrema-direita quando se trata de açucares que entram na composição de ácidos nucleicos e da extrema-esquerda para os aminoácidos que constituem as proteínas. (…) sempre, na vida, uma célula tem duas ambições que, aliás, são, muitas vezes, contraditórias: dividir-se ou, dito de outra maneira, multiplicar-se e diferenciar-se – tornar-se um neurónio, por exemplo. Nas duas situações o DNA é o mestre-de-obras.
Também não se pode confundir com a «cultura» qualquer acção do meio sobre as espécies vivas. Penso que o olhar etnológico nos leva, insensivelmente, a usar a palavra cultura a torto e a direito. O facto dos tentilhões, ou outros pássaros, fazerem diferentes «piu-piu» consoante o lugar onde vivem, não chega para, ipso facto, constituir uma prova indubitável de uma «cultura».
Infelizmente, é na capacidade de tomar o mal como projecto que se manifesta com maior certeza a especificidade do humano.
O único consolo é que tal capacidade não pode senão ser um efeito da liberdade do homem e que essa liberdade, por vezes, permite-lhe esse outro excesso que apelidamos «generosidade» ou, mais simplesmente, amor.”
Luc Ferry
Diria que a ética meritocrática é, portanto, de inspiração democrática quando o mérito se situa dentro de uma liberdade de pensamento e de reflexão que, nos faz relegar a política, por uns tempos, para outras bandas menos visíveis, a fim de que possamos dela tirar as devidas férias e consigamos dentro de nós, criar um discurso que, também pretenda dar acesso a uma verdade, mas nunca a uma verdade exaustiva.
Atente-se que a palavra nos oferece o meio de experimentar o Ser; e o pensamento que as palavras transportam abrem uma clareira no coração da floresta imaginária onde se encontram as formidáveis contradições na origem da vida e do seu oposto, ainda que se recuse o parentesco com a não-vida que, por demasiadas vezes, aceitamos, como que narcotizados.
Não nos esqueçamos que Kant é um sábio do seu tempo; ele é impensável sem Newton e, consequentemente, sem Copérnico e Galileu.
E, não se esqueça o ser humano que através das janelas, sempre se pode espreitar o reflexo bom de uma esguia lua.
E, reafirmo: sempre aprendiz, não mereço ser mestre, mas na condição de ser eu-mesma e eu-outra, assim soubesse trabalhar o aço.
M. Teresa Bracinha Vieira
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