Mo Mowlam: a sétima solidão. Recebido de M. Teresa Bracinha Vieira
A ex-ministra para a Irlanda do Norte que constituiu uma das chaves fundamentais e inovadoras para o acordo de paz de Abril de 1998, faleceu aos 55 anos, vítima do tumor cerebral que já a minava aquando do seu desempenho político no governo de Tony Bair.
Ouvi dizer que em Inglaterra lhe chamavam a bomba atómica benigna, sobretudo pela coragem e pela franqueza com que enfrentava as situações que outros políticos nunca tinham usado tocar, não obstante serem realidades prementes, a que urgia dar solução.
Não se encontra na política dos nossos dias a franqueza enquanto postura indispensável e companheira da coragem.
Sinónimo de franqueza é também generosidade, sinceridade, lisura, desengano, candura.
O destemor com que Mo Mowlam enfrentou a sua terrível doença, faz a diferença única na sua postura.
Costumo dizer que quem já enfrentou a malignidade de um tumor e permaneceu na luta a expensas de uma alma que tirita num frio desconhecido, tem em si, no seu peito, o dom de uma palavra que fulmina qualquer queixa do dia-a-dia mesquinho de quem não sabe fazer a diferença.
Sempre a densidade do diálogo político desta ex-ministra impediu qualquer efeito de demagogia, essa à qual basta o momentâneo, essa que esquece a descoberta comunitária da razão da palavra, o assumir de uma ideia.
Aconselha-me o meu orgulho, a minha solidariedade, que abrigue Mo Molwlam num poema de Sophia:
Exausta fujo às arenas do puro intolerável
Os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado
A cidade onde habito é rica de desastres
Embora exista a praia lisa que sonhei
M. Teresa Bracinha Vieira
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