a Sobre o tempo que passa: Mo Mowlam: a sétima solidão. Recebido de M. Teresa Bracinha Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.8.05

Mo Mowlam: a sétima solidão. Recebido de M. Teresa Bracinha Vieira

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A ex-ministra para a Irlanda do Norte que constituiu uma das chaves fundamentais e inovadoras para o acordo de paz de Abril de 1998, faleceu aos 55 anos, vítima do tumor cerebral que já a minava aquando do seu desempenho político no governo de Tony Bair.

Ouvi dizer que em Inglaterra lhe chamavam a bomba atómica benigna, sobretudo pela coragem e pela franqueza com que enfrentava as situações que outros políticos nunca tinham usado tocar, não obstante serem realidades prementes, a que urgia dar solução.

Não se encontra na política dos nossos dias a franqueza enquanto postura indispensável e companheira da coragem.

Sinónimo de franqueza é também generosidade, sinceridade, lisura, desengano, candura.

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O destemor com que Mo Mowlam enfrentou a sua terrível doença, faz a diferença única na sua postura.

Costumo dizer que quem já enfrentou a malignidade de um tumor e permaneceu na luta a expensas de uma alma que tirita num frio desconhecido, tem em si, no seu peito, o dom de uma palavra que fulmina qualquer queixa do dia-a-dia mesquinho de quem não sabe fazer a diferença.

Sempre a densidade do diálogo político desta ex-ministra impediu qualquer efeito de demagogia, essa à qual basta o momentâneo, essa que esquece a descoberta comunitária da razão da palavra, o assumir de uma ideia.

Aconselha-me o meu orgulho, a minha solidariedade, que abrigue Mo Molwlam num poema de Sophia:



Exausta fujo às arenas do puro intolerável
Os deuses da destruição sentaram-se ao meu lado
A cidade onde habito é rica de desastres
Embora exista a praia lisa que sonhei

M. Teresa Bracinha Vieira