Prognósticos só no fim do jogo...
Um dos meus heterónimos, o cientista político, veio agora da SIC-Notícias, onde analisou a recta final desta campanha eleitoral, onde tentou dizer que pode acontecer que a sondajocracia não rime com democracia e que, depois da primeira volta, ainda haja uma espécie de liga dos campeões, numa altura em que os campanheiros disputam passeios com capitães de Abril, de Tomé a Beato, ou os cançonetistas animadores de comícios, da Isabel Silvestre ao Sérgio Godinho, incluindo os Rádio Macau e os tradicionais coros alentejanos, onde o "Grândola, vila morena" deixou de ter direitos de exclusivo.
O problema mais importante da política portuguesa não será resolvida com a eleição do novo inquilino de Belém, porque está em causa um sistema fechado que ameaça fazer explodir o regime. Com efeito, até agora vivemos em concerto que ainda não teve conserto, neste equilíbrio entre o bloco central de interesses, dirigido pelo poder banco-burocrático, com ex-ministros ao serviço de multinacionais, e o centrão social dos subsidiodependentes, deste Estado assistencial e pouco meritocrático, onde havia dois terços de beneficiários e que agora ameaçam transformar-se em dois terços de excluídos, como se prenuncia com o anúncio da falência da segurança social ou com o desemprego dos funcionários públicos, a que chamam reforma do Estado, para não falarmos de haver cada vez mais pobres, cada vez mais pobres, e cada vez menos ricos, cada vez menos ricos.
Todo o concerto assentava na barganha política de cerca de um milhão de eleitores que passava do PS para o PSD e vice-versa, o tal pêndulo que, nas últimas legislativas, puniu os filhos de Cavaco Silva, de Durão a Santana, com Portas anexado, e se entregou a Sócrates. O tal eleitorado centrão que nas sondagens têm dito que vota Cavaco, também reforçado com o apoio do eterno eanismo, o tal PRD residual que, agora, em vez de votar Zenha vai votar numa espécie de anti-Soares em figura humana.
Só que as favas podem não estar contadas e a teoria da pescada, que antes de o ser já o era, pode virar-se contra os feiticeiros e a segunda volta ainda é "faisible", como costumava dizer esse animal politiqueiro que se chamava Mitterrand. Isto é, a esperança de Soares ainda reside na hipótese de Cavaco sofrer o drama de Freitas, quando cerca de 2% do chamado eleitorado de direita preferiu o "sempre fixe" ao actual ministro dos estrangeiros do socratismo.
Daí que Soares tente recuperar os afectos desse espaço de dissidentes da direita não contaminada pelo interesseirismo dos barões endinheirados e dos aparelhismos partidocráticos, recordando muitos que até teve um chefe da casa militar, todo monárquico ostentável. Também Alegre joga na chamada esquerda patriótica e nalguma metapolítica que pode ter alguns efeitos, nessa caça a nichos de mercado eleitoral que, grão a grão, pode levar a algumas revisões da metodologia das sondagens, onde a revolta contra o sistuacionismo governamental pode não ser consequente nas urnas das presidenciais. Finalmente, a resistência de Louçã, Jerónimo e Garcia na focie e martelo das vozes tribunícias pode ser mobilizadora. Portanto, prognósticos só no fim do jogo e que não seja o Diabo a escolher.
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